Monday, September 9, 2013

Guate Guate - a boa Guatemala!



Se me tivessem pedido para indicar no mapa mundo onde ficava a Guatemala há um ano atrás, eu não saberia como o fazer. Embora soubesse que se encontrava localizada na América Central, não sabia como encaixá-la no puzzle juntamente com as Honduras, El Salvador, Nicarágua…

Hoje posso garantir que nunca mais esquecerei como o fazer!

Chegámos à península de Flores (grandes semelhanças com a ilha do Baleal) ao início de uma tarde de semana, sob um sol delicado e uma temperatura amena. Pelo caminho fizemos um pit stop na capital do Belize para deixar alguns turistas. Belize é a única colónia Inglesa da América Central (e do Sul se não contar-mos com as Malvinas) e a sua capital, Belize City, parece pobre, muito suja e com um aspeto inseguro. A sua energia e dinâmica é completamente diferente das restantes cidades da América Central e isso nota-se logo nos primeiros minutos.

Uma vez em Flores, instalámo-nos num hostel com vista para o lago Petén Itzá e fomos passear o resto do dia pela península. Entre mergulhos e leituras, o dia passou-se de forma relaxada. No dia seguinte fomos a Tikal, a terceira cidade do triângulo Maya. Já abordei as nossas experiências nas cidades Mayas neste blog, restando-me apenas mencionar os 45 minutos que eu e o Formiga passámos sentados e isolados na Acrópole de Tikal e que souberam como uma intervenção divina! Entre construções inspiradoras e paisagens de cortar a respiração (Tikal foi palco de várias rodagens de filmes de sucesso planetário, tal como o primeiro Star Wars, ‘the good one’ como nos referiu o Guatemalteco que nos guiou selva adentro), aqueles momentos a sós serviram-nos para relembrar porque deixámos empregos e vendemos vários dos nossos bens para fazer esta viagem. Como cereja no topo do bolo, acabámos essa noite os dois, entre mota e cervejas, no terraço do hostel a apreciar uma intensa chuva de raios sob a floresta tropical de Tikal que se refletiam na água lago Petén, que nos separava dela. A trovoada não só estava tão longe de nós que nem sequer chovia onde estávamos, como estivemos toda a noite de manga curta a apreciar a leve brisa que tão bem nos sabia na pele.

A curta e prazerosa estadia em Tikal fazia antever uma Guatemala cool e com aquela energia de que se não forçarmos a experiência, ela se dará com maior esplendor. Sem uma mente invasiva e com os corações esvaziados de urgência, chegámos a Semuc Champey. Num local montanhoso, bem distante de qualquer cidade, onde os geradores funcionam quatro horas por dia, nós caminhámos pelas montanhas, nadámos nos maravilhosos lagos que se formaram devido a uma derrocada que atingiu em cheio o leito de um rio e partilhámos experiências com pessoas a quem não víamos a cara, devido ao facto de os geradores se desligarem à meia-noite e nós seguirmos o rumo das conversas até ao fim na cabana central, onde todos se juntavam à conversa.

Semuc Champey é bonito! Muito bonito mesmo! Contudo, a nossa experiência foi, em parte, estragada por um empregado do hostel que, deselegantemente, nos tentou enganar. Ao aperceber-se que eu e o astuto Formiga erámos tipos atentos e algo inflexíveis nestas ocasiões, ele demonstrou a sua frustração e baixo nível ao ofender a nossa nação e as nossas mães.

O terceiro destino na Guatemala foi a antiga capital do país, Antigua. Fazendo jus ao seu nome (Antigua significa, em Espanhol, antiga), esta cidade de construção secular perdeu o título de capital devido aos constantes terramotos que sofria e que danificavam as suas infraestruturas. Com uma geografia muito semelhante a San Cristóbal de las Casas, no México, devido ao facto de se fazer circundar por uma cordilheira negra e cujo cume se encontra quase sempre coberto pelas nuvens, Antigua é uma peça-chave na história da Guatemala e o lugar dos bares, lojas e feiras mais charmosas deste país. Passear por esta cidade de piso muito irregular era, curiosamente, um deleite e a maioria indígena que a povoa é afável e de trajes bonitos. A sua arquitetura colonial e o pouco trânsito são traços únicos numa Guatemala que por vezes é confusa e cheia de novidades pouco bonitas.

Depois de um dia ou dois a vaguear pela cidade, vimos um documentário sobre a história dos últimos 50 anos Guatemaltecos (o nome do documentário é ‘Where the Mountains Tremble’) e visitámos um vulcão com um guia completamente inútil, cuja única informação que saía daquela boca era “until 2009 one thing, after that very different..very very different”. Além deste ‘excesso de informação’, também me questionou duas vezes como era o Brasil quando eu lhe dizia que era Português, apresentou-se de uma forma bastante insólita, pediu apenas a metade do grupo para se apresentar, desaparecia a cada dez minutos, perseguiu uma rapariga alemã com imensas perguntas em Espanhol mesmo depois de ela lhe ter referido imensas vezes que não falava tal idioma, etc.

Antigua foi também o local onde me roubaram a máquina fotográfica Pentax K7. Encontrada num golpe de sorte no site Custo Justo e habilmente negociada, esta Pentax fez os seus últimos registos sob minha propriedade no bar ‘rainbow’ na noite anterior ao delito, na qual eu, o Formiga e o Robert Johnson tínhamos atuado para um bar cheio e divertido. Arrancámos aplausos, sorrisos, tirámos fotos…foi uma noite top nesta viagem.

Não há bem que sempre dure e os próximos dias viriam a tornar-se exemplo disso…

P.S.1: O documentário ‘Where the Mountains Tremble’ é altamente recomendável para quem tem interesse em conhecer um pouco sobre a história recente da Guatemala. Esta peça de enquadramento histórico começa com o pressing do Governo dos EUA para que o presidente abandonasse o seu cargo em 1953 e, assim, se iniciasse uma suposta democracia. Da perseguição aos ‘subservientes’ das montanhas, à tortura de supostos guerrilheiros, passando pelo atentado à Embaixada de Espanha em 1980, este doc aborda todas as injustiças e crueldades sofridas pelo povo guatemalteco, especificamente, os de origem indígena.

P.S.2: Na viagem de van que fizemos de Semuc Champey até Antigua, ocorreu um incidente meio insólito. Numa viatura recheada de pessoas dos vários continentes, uma mulher Sul Coreana impediu aos pontapés que um Americano puxasse as costas de um banco que se encontrava deitada sobre o assento. Após uma desagradável troca de palavras e amuos, o já conformado Americano colocou a sua mochila nas costas da cadeira que foi impedido de levantar. Todavia, a estranha e pouco simpática Coreana inicia também uma longa série de pontapés na mochila que lhe estaria a incomodar o espaço que ela queria ter para as pernas… O originário do Colorado e também amante de guitarras Martin comportou-se como um cavalheiro e controlou calmamente uma situação que, nas mãos de qualquer outra pessoa, teria descambado para a lambada…  

Monday, August 12, 2013

Mexico Lindo - Adios (Palenque, Valladolid, Mahahual e Chetumal)

Como de costume, chegamos ao nosso destino depois de uma viagem longa e massacrante. Desta vez, as nossas inimigas nao foram apenas as curvas, mas tambem as vezes que tivemos que trocar de van devido ao corte das ruas para a realizacao de varias manifestacoes que tinham lugar um pouco por toda a provincia de Chiapas.

Instalados, literalmente, no meio do mato de Palenque no hostel ‘El Pachon’, optamos por descansar o primeiro dia devido a hora avancada a que chegamos, tarde demais para visitar a cidade Maya. No dia seguinte, levantamo-nos cedo, fizemos check out e fomos visitar as ruinas da cidade Maya de Palenque. Foi divinal!

Numa cidade que tem apenas 2% dos seus 1800 edificios a descoberto, contratamos um carismatico guia que nos guiou pela cidade de forma fascinante, enquanto partilhava alguns detalhes historicos muito interessantes. Sendo a primeira cidade Maya e uma das tres maiores de sempre, juntamente com Chichen Itza (maravilha do mundo moderno) e Tikal (no norte da Guatemala), Palenque foi uma experiencia marcante, nao apenas pelos seus pormenores culturais unicos, mas tambem pela experiencia de visitar um local tao grandioso e partilha-lo com tao poucas pessoas!

Um dos factos mais curiosos sobre as tres cidades Mayas que visitamos (e que enunciei anteriomente) sao as contraditorias informacoes que os guias nos contavam sobre as caracteristica da cultura Maya. Por exemplo: Em Palenque, indicaram-nos que era uma falacia pensar-se que os Mayas eram pessoas de baixa estatura e que o facto de os degraus serem muito curtos devia-se ao Z que devia ser descrito na escadaria aquando da subida ate ao topo da piramide, pois desta forma, demonstrava-se submissao aos Deuses. Acrescente-se ainda que, o facto de as portas serem de altura reduzida era justamente para obrigar as pessoas a curvarem-se para entrar e, assim, prestar tambem uma homenagem ao motivo pelo qual aquela piramide tinha sido construida, seja ele um Astro, um Deus ou um Rei. Por outro lado, em Chichen Itza foi-nos referido que o povo Maya era muito baixo e, em Tikal, a tese era de que a grande maioria do povo Maya era muito baixo, enquanto o Rei tinha mais de 20 centimetros a mais que a media do seu povo. Mas as incongruencias nao se ficaram por aqui e foram para todos os gostos...
Divergencias a parte, o que podemos reter numa breve descricao e que os Mayas eram uma civiliazacao muito evoluida nas materias da matematica, arquitetura e astronomia. Em resposta a tradicional questao colocada por todos os gringos ‘entao se eram tao evoluidos, porque se teve tantos anos para redescobrir o conhecimento, supostamente, ja adquirido?’,a seca mas logica afirmacao parece convencer ‘ok! Experimentem colocar uma bomba na NASA para ver quantos anos vamos precisar para chegar ao nivel de conhecimento que eles tem hoje’. ‘E quanto a arquitetura semelhante a de outras partes do mundo?’, ‘meu amigo, arquitetura e logica e logica nao tem nacao!’ Era assim que o guia justificava o facto de a cultura Maya ter cupulas e pormenores identicos ao de culturas arabes nas suas piramides. Eles defendem de que as cupulas nao sao esteticas, mas sim um pormenor de logica de construcao, logo ao estudarem bem a forma como deviam construir os edificios, era natural que as cupulas e outros formas arquitetonicas fossem utilizadas...

2 – 0! Completamente esclarecidos, seguimos caminho entre piramides, cascatas e outros motivos de interesses variados. Nesse mesmo dia, partimos para Valladolid, na provincia de Yucatan, chegando apenas no dia seguinte. Esta provincia era das poucas do sul do Mexicoque eu ja tinha ouvido falar, devido a sua honesta descricao na musica de Lou Reed, Modern Dance: ‘Maybe i should go to yucatan, where women are women, a man is a man, no one confused ever loses place with their place in the human race’. Parece-me uma descricao bastante certeira, faltando, no entanto, uma mencao aos mosquitos! Que Deus me impeca de sair da Argentina se esta cidade nao foi aquela em que mais sofri com as mordidelas dos mosquitos em toda a minha vida. Chegava a contar mais de 50 numa perna e tenho fotos para comprovar. Andamos sempre sem repelente, uma vez que, segundo consta, nao ha locao que valha ja que eles mordem mesmo apos uma recente aplicacao desse malcheiroso spray.

Valladolid foi interessante, mas nao fascinante! O primeiro dia foi passado a mandar mergulhos num cenote (lagos subterraneos), no centro da cidade. Dos 2 aos 9 metros, haviam rochas para todos os gostos de onde era possivel saltar para dentro de agua. Com as criancas que ainda se manifestam em nos em delirio total (e porque molhados os mosquitos tambem mordem menos)acabamos por ficar todo o dia a saltar.
Satisfeitos com o primeiro dia em Valladolid, decidimos visitar no segundo dia a incontornavel maravilha do mundo moderno Chichen Itza. De agua na boca para conhecer a mais mediatica das cidades do Triangulo Maya (Palenque, Chichen Itza e Tikal), as nossas expetativas sairam defraudadas de tal forma que esse local tornou-se brincadeira entre nos e sinonimo de fiasco. Claramente inflacionado pela sua proximidade com Cancun, Chichen  Itza e menos impactante que Palenque e menos bonito que Tikal. Se acrescentarmos um preco tres vezes maior, adicionar-mos a paisagem varios milhares de vendedores ambulantes e partilharmos o recinto da cidade Maya com uma multidao digna de um festival de verao, ficamos com a receita exata para um dia mal passado num local de culto.
Nao ficamos tristes! Nem sequer de ma onda pela desilusao. Sabiamos que tinhamos mais ruinas Maya para ver e Palenque ja tinha sido interessante o suficiente para despertar em nos o bichinho de tao enigmatica cultura.

De persistencia inesgotavel, os mosquitos mordiam com tal intensidade que ambos concordamos que nao poderiamos estar mais dias em Valladolid. No dia seguinte arrancamos num autocarro noturno para Mahahual, bem la no sul do Mexico. Nesse dia ainda cortamos o cabelo, arranjamos as botas e fomos a mais um cenote a cerca de 7 km da cidade. A sua beleza era inquestionavel, mas o facto de nao se poder mergulhar, fazia de Xkeken um sitio algo macador. Foi meio aborrecido o nosso ultimo dia em Valladolid.

Chegamos a Mahahual de noite apos, adivinhem la, mais uma longa viagem de autocarro! Ja comecavam a ser muitas as viagens acumuladas e sempre por terra. As costas e o rabo ja nao eram os mesmos do inicio da viagem, mas a satisfacao pessoal de sentir cada km que percorremos e a possibilidade de testemunhar o quao vasto e diverso e o nosso planeta, e uma memoria que teria sempre que ficar associada a uma viagem destas. A experiencia de partilhar tantos autocarros com tantas e tao peculiares pessoas tem sido mais enriquecedor do que possa, a primeira vista, parecer. Ate para nos!  Todos os desentendimentos a que assistimos, todos os condutores que nos levaram, todos os conspiradores que ouvimos, todos os pro-guerra nos EUA, todos os campesinos no Mexico, todas as figuras horrificas cujo comportamento nos fizeram zelar atentamente pelos nossos bens e todas as horas que esgotamos a olhar pela janela, sao parte indelevel da mutacao que se deu em nos desde marco.

Em Mahahual ha pouco que fazer! Muito pouco! Uma praia de agua cristalina e algumas opcoes de snorkeling sao o unico entretem nesta vila que, segundo me comentaram, o seu nome assemelha-se a uma gargalhada cibernetica monumental. A razao pela qual viemos a este perdido banco de areia foi para tentarmos ir ao segundo maior recife de coral do mundo, que esta localizado em frente ao Belize. Ora por falta de passageiros, ora devido a tempestades no mar, nunca tiramos os pes de Mahahual pelo que, ao fim de quatro longos dias, partimos para Chetumal. Desta cidade, sem qualquer ponta de interesse, esperamos o bus matutino que nos levou ate a Guatemala, via Belize.

Levamos connosco um pouco do Mexico (a minha tolerancia ao picante subiu substancialmente)! Foi mais um exemplo de que e necessario estar ou ter estado nos locais para se poder falar sobre eles.  Nao presenciei nenhum momento de inseguranca e isso nao se deve a minha desatencao enquanto espectador. Com bom senso, e possivel uma fabulosa experiencia de mescla com os simpaticos mexicanos que tao bem recebidos nos fizeram sentir. Nota 10 para este paraiso de cores, onde a hospitalidade na chegada chuta para a frente a retirada ate ao limite do razoavel! Seis meses nao sao nada para a America do Norte e Central. Se voltasse, voltaria para seis meses no Mexico.


Hasta la vista, chicos!


Thursday, August 8, 2013

Puerto Escondido - fotos point&shoot

Puerto Escondido - Um local com muitas praias acessiveis a todos os gostos!







                                             Antonio, o grande pescador :)

Wednesday, August 7, 2013

San Cristobal de las Casas - Cidade especial!

‘Solidariedade = horizontal | caridade = vertical’ adaptado de uma longa lenga lenga de Eduardo Galeano no livro ‘Las venas abiertas de America Latina’

O negativismo que embalou a nossa viagem de autocarro, fruto do elaborado brinde de Antonio, o pescador mentiroso de Puerto Escondido (OK! Eu sei que os pescadores sao mentirosos, mas este era um grande pescador!), dissipou-se com os artilhados*(curiosidade 1) ares de San Cristobal de Las Casas, na velhinha e montanhosa provincia de Chiapas.

Viajando, sempre que possivel, de noite para poupar o dinheiro da estadia, chegamos a San Cristobal (SC) bem cedo. Rapidamente nos instalamos num hostel a 80 pesos (o equivalente a 5 euros por dia) e fomos fazer a habitual primeira incursao pela cidade desprovidos de qualquer mapa, recomendacao ou sequer ideia do que nos esperava. Nem ha cinco minutos estavamos a andar quando chegamos a longa, estreita e lindissima rua de Guadalupe. De movimiento intenso, mas estranhamente silenciosa, esta rua conta com varias lojas de tudo um pouco, mas essencialmente de artesanato chiapaneco e merchandising da guerrilha local EZLN (Ejército Zapatista de Liberación Nacional) cuja da figura de proa, o subcomandante Marcus, e a mais brilhante das varias estrelas deste movimento. Apos os 50 primeiros metros desta rua, percebi que o prognostico de estadia para tres dias era irreal e refleti sobre a justica dos astros. Quando o Universo nos brinda com algo negativo, logo trata de nos massajar a barriga com maos de veludo. Neste caso muito concreto, as maos talvez tivessem pulsos que ostentassem pulseiras do mais fino ambar, produto que abunda naquela regiao e cuja extracao e um ator determinante na economia local.

Fazendo a ja típica breve descricao geográfica do local, SC esta situada num vale completamente rodeado de montanhas e vulcoes, cujas encostas sao ocupadas por pequenos povos indígenas. Nas mesmas, encontram-se as igrejas de Guadalupe, cuja longa escadaria de acesso e precisamente onde a central rua de Guadalupe comeca, e do Cerro, localizada na montanha do lado oposto como se se duas claques rivais se tratasse. A paisagem que se pode vislumbrar de ambas e fantástica, fazendo lembrar uma Cidade do Mexico em miniatura, devido a toda a sua perferia montanhosa, na qual a arquitetura castanha e verde de Deus ainda e o traco que prevalece.

Regressando ao prmeiro dia, algo de muito relevante aconteceu e que acabaria por marcar a nossa estadia em SC. Com os banhos tomados e com as mochilas ja meio vazias ao fundo das nossas camas, saimos para jantar e beber um par de gasosas. Quando ja nos encontravamos a fazer o caminho de regresso, eu parei subitamente ao identificar uma musica de Violent Femmes (banda americana) que se escapava pelas entreabertas portas de um bar que parecia estar a fechar. A medo, dado o avancar da hora e o aspeto de pre-clausura, entrei no ‘La Sandunga’ e perguntei se ainda serviam. Uma senhora alta, speedada e de rastas ate ao rabo respondeu que sim e fez o favor de nos servir. Sentados ao balcao, eu cantarolava as cancoes de Violent Femmes enquanto a senhora, que entretanto nos revelou ser originaria da regiao Italiana de Liguria (tal como o simpatico Matias de Puerto Escondido), nos interpelava constantemente com questoes e curiosidades. Com o decorrer da noite, o gelo foi derretendo e ao toque de uma cerveja oferecida, mostrou-nos as cancoes da banda da qual e manager e que se encontrava, naquele momento, no Corona Music Fest em Guadalajara. Acabamos essa noite na boite ‘Madre Tierra’ a testemunhar o quao mal, eu e o Formiga, dancamos salsa.

Ja parcialmente descrita, esta Italiana que se apaixonou por San Cristobal enquato viajava e que decidiu la voltar para viver o resto dos seus dias, chama-se Marirosa e assumiu o papel de nossa matriarca, apresentando-nos a imensa gente e proporcionando-nos uma ampla variedade de experiencias que de outra forma teriam sido impensaveis.

No segundo dia, voltamos a passear pela surpreendentemente grande cidade de SC, tendo descontraido os cansados corpos num comedor de rua com uns deliciosos tacos. A primeira cerveja da noite foi no elegante bar ‘Entropia’. A simpatica proprietaria Meixueira, de descendencia galega, tambem foi lesta no que toca a nos integrar na tao simpatica clientela do seu bar. Ao som de Chico Cesar, despedimo-nos e seguimos para o ‘La Sandunga’, onde fomos, novamente, muito bem recebidos pela Marirosa e a sua seria, mas extremamente competente empregada Gina. Decidi entao, apos conferenciar com o diabo em cima do ombro esquerdo, assumir o controlo da playlist do bar, papel esse que correu de tal forma que fiquei retido o resto da noite junto ao PC, sendo apenas interrompido para dar abracos ou apertos de mao pela escolha das musicas. Essa noite prosseguiu sob um clima de reencontro de amigos de escola que nao se veem ha dez anos e acabou ja o sol anunciava que chegavamos a meio do dia.

Depois de um domingo de vista embaciada e de pernas latejantes, a segunda-feira deu o pontape de saida para a semana mais emotiva da viagem ate entao. Sem qualquer ordem cronologica ou de preferencia, nesta semana fomos as montanhas atuar para meninos indigenas que nunca tinham visto uma marioneta, atuamos uma noite inteira no ‘La Sandunga’, passamos um dia na casa que Marirosa possui nas montanhas e visitamos o pequeno mas util museu da cidade de SC. Nele percebemos, nao apenas as dificuldades de escoamento de agua na epoca das chuvas, devido as suas condicoes geograficas desvantajosas, mas tambem curiosidades culturais como o facto desta cidade ter nove santos padroeiros ou de ter sido o palco da primeira fotografia da historia, na altura impressa num papel vegetal que teve a duracao de 15 dias.
Nesta semana fomos tambem ao Canon del Sumidero, rio cujas margens sao compostas por escarpas, assemelhando-se vagamente ao Grand Canyon de Arizona. Este sitio e um dos locais mais importantes da historia de Chiapas, simbolizando a resistencia dos indios aos invasores Espanhois que os tentavam conquistar. Segundo reza a lenda, na escarpa mais alta deste canhao, os indios das montanhas de Chiapas, realizaram um suicidio coletivo ao atirarem-se todos ao mesmo tempo, revoltados por estarem a ser forcados a abdicar dos seus principios e costumes. Ainda hoje, a bandeira de Chiapas tem, como imagem de fundo, o Canon del  Sumidero.

Por entre os dias preenchidos desta semana, visitamos tambem dois povos indigenas, San Juan Chamula e Zinacantan, tendo sido possivel assistir a fabricacao manual de artesanato local, a tecelagem de lindissimos trajes e aos seus costumes religiosos que persistentemente mantiveram ao longo de varios seculos. Sublinhe-se que a igreja de San Juan Chamula e local de pratica de duas religioes diferentes no mesmo espaco. Coisa pouco comum neste mundo!

No ultimo fim de semana em SC, fomos a uma cantina local onde almocamos junto de taxistas, sapateiros, artesaos, carteiros e todos os casticos de SC, embalados por musica rancheira, cerveja barata e comida (mais ou menos) boa, barata e bela. O nosso tour noturno voltou a ter uma incursao pelo ja habitual ‘La Sandunga’ para a ver a banda gerida por Marirosa atuar. Apos o seu concerto ainda toquei tres ou quatro musicas a pedido de Mari para dar um gostinho de Bossanova aos presentes. O resto dessa noite voltou a ser de gaudio e a terminar ja depois da hora de almoco.

Tentamos abandonar San Cristobal de las Casas na segunda-feira seguinte, mas San Cristobal de las Casas nao nos queria abandonar! Os nove santos devem ter abencoado a manifestacao de professores que se realizou, pois a adesao foi tal que bloquearam as saidas dos autocarros da estacao. Em boa hora o fizeram, uma vez que apos um dia bem relaxado em SC, tivemos um jantar maravilhoso no restaurante do Ale, um dos muitos conhecimentos que fizemos no ‘La Sandunga’.
Para alem de Marirosa, pessoas como a acessivel Gina (que com o tempo baixou a guarda e se revelou uma simpatia), a sempre disponivel Mercedes, a desvairada Meixueira, o sobrio pinguim (alcunha, como e obvio), o sorridente e generoso Ale e o acessivel Carlos, farao sempre parte do nosso conto de fadas mexicano!

Pela primeira vez, em toda a viagem, senti-me em casa. Admito que tal sentimento possa ser falacioso, mas confesso que ser cumprimentado a toda a hora na rua, nos faz sentir integrados e que aquele legado tambem pode ser nosso a troco de muito pouco.

Nunca, mas nunca esqueceremos estes dias em San Cristobal de las Casas!

Curiosidades (vale a pena ler J)
1 – San Cristobal de las Casas esta sentada em cima de uma bacia de uranio a 2200 metros de altitude. Como o uranio evapora-se atraves da terra, a populacao inala um composto quimico andando, permanentemente, ‘pedrada’. Esta e a razao cientifica, muito curiosa, que ajuda a explicar a tao grande simpatia e generosidade dos seus traseuntes.

2 – E nas montanhas de Chiapas que ainda permanecem os Zapatistas, exercito de guerrilha que organizaram a revolucao de 1994, com a invasao a San Cristobal de las Casas. Zelando pelos Direitos dos indigenas e incrivelmente eloquentes, o EZLN (Ejército Zapatista de Liberación Nacional) ainda se mantem ativos e bem organizados.
O documentario ‘a place called Chiapas’ e uma otima fonte de informacao sobre este movimento.

3 – Em SC tentamos o busking por duas vezes! Na primeira vez fomos interrompidos ao fim de quatro musicas, quando tinhamos uma plateia de 30 a 40 pessoas, devido ao facto de nao sermos possuidores da licenca necessaria. Plenamente conformados com esta situacao, fomos no dia seguinte submeter-nos a todos os processos burocraticos para a obtencao da mesma. Enquanto esperavamos pela a assinatura da Diretora da Casa da Cultura de San Cristobal, fomos ensaiar relaxadamente para o jardim em frente. Neste ensaio de apenas duas musicas, captamos a atencao de uma familia de Guadalajara que depositou na mala da guitarra, dinheiro suficiente para todas as refeicoes de ambos naquele dia.

No dia seguinte, ja na posse da licenca, fomos abordados pelo mesmo guarda que defendeu que necessitavamos de mais uma copia da licenca. Claramente a procura de extorquir dinheiro, gritei-lhe ‘NAO!’ junto ao seu nariz, coloquei, violentamente, a guitarra na mala e virei-lhe costas...va enganar os seus...

Monday, August 5, 2013

Cidade do Mexico a Cores e a Preto e Branco!

Cidade do Mexico!

Local de profetas, de ruas entretidas, de conspiracoes... mas tambem de boas ideias, boas acessibilidades, boa luz, (mais ou menos) boa musica, trafego incrivelmente incrivel e de obsessoes!
Se tivesse que enumerar uma caracteristica, seria os murais que a salpicam e as constantes descobertas arqueologicas dentro da Cidade.
Fascinante!

                                (como se os corpos das Mexicanas fossem assim)











                         (melhor momento do dia: quando as caixas de musica se calavam)




Retorno do quase retornado!

Amigos,
Agora que ja me encontro na Argentina e com a minha situacao regularizada, irei compensar o meu afastamento do blog esta semana! Todos os dias postarei algo.
Alternando entre fotos e textos, espero nos proximos dias regulariza-lo.

De momento, nao me encontro com o fiel companheiro Formiga, que se encontra (penso eu) na Costa Rica. Eu tive de voar direto para Buenos Aires, enquanto o Formiga seguiu o seu percurso normal, passando entretanto pela Nicaragua.

Um pedido de perdao pela paragem a que o submeti e um desejo de boas ferias para a grande quantidade de seguidores que se encontram neste modo!

Hasta la vista babies!
JP

Wednesday, July 24, 2013

Nota - retido na Guatemala!

Amigos,

Encontro-me retido na Guatemala! O Formiga seguiu viagem ha dois dias e eu ficarei por aqui ate...ate conseguir sair, o que eu espero que seja dia 1 de agosto. Estou retido porque tenho apenas 5 meses de validade no passaporte e o minimo para se viajar na America Central e 6 meses! Agora nem saio daqui, nem entro noutro pais sem um apoio diplomatico que, adivinhem la, nao existe na Guatemala!!! Nao ha Embaixada, nem Consulado Oficial. Existe contudo um Consulado Honorario com 13 dias de funcionamento que nao tem poder nenhum, por ser apenas honorario...

Viva a Guatemala que gosta tanto do meu look que nao me quer deixar sair!!!

O blog esta em standby! tenho passado todas as horas que posso em frente ao pc, mas a enviar mails para tratar da minha situacao. Ate breve (espero!)
JP

Saturday, July 13, 2013

Sul do Mexico (parte 1) - Cidade de Oaxaca e Puerto Escondido

Bem dispostos e desejosos de conhecer o tao bem falado sul do Mexico, chegamos a Oaxaca com um enorme sorriso nos labios. Esta expressao era sustentada, nao somente pelos preenchidos dias de DF, como tambem pelas dicas que traziamos no bolso e que sublinhavam o quao bem se esta nesta provincia. Desde a ‘provincia mais barata’, a ‘zona mais heterogenea’, ate ao ambicioso titulo ‘a provincia mais cool do Mexico’, as recomendacoes foram-nos chegando de todas as partes e em doses nao regradas.

A chegada a primeira paragem desta provincia deu-se, a semelhanca de DF, de madrugada. Estavamos entao na ‘Cidade de Oaxaca’ (Como ja puderam perceber, no Mexico nao se arrisca muito na altura de se escolher o nome para as cidades. O mesmo acontece com o nome das pracas e das ruas. Em todas as cidades que passamos, havia sempre uma praca Zocalo, uma Rua de Guadalupe, etc). De ruas estreitas, embora longas, esta cidade e algo fustigado pelo transito intenso em algunas zonas. Ainda que nao seja perigoso, nem tao pouco confuso uma vez que todas as ruas tinham apenas um sentido, as longas filas de carochas retiravam um pouco do encanto relaxado da Cidade de Oaxaca, ainda que lhe conferissem um toque algo cinematográfico. De arquitetura colonial e clima agradavel, os dias foram, tal como as noites, passados a vaguear e a entrar aleatoriamente nos muitos mercados e lojas locais de artesanato, livros e artigos em segunda mao. O facto de viajarmos de mochila as costas, ja nos provocou leves e instantaneas depressoes tendo em conta as maravilhosas pecas que temos visto. Quem tem dinheiro para decorar a sua casa, que ignore as caras lojas de centro comercial e apanhe o proximo voo para o sul do Mexico! E de fazer cair o queixo…

Um pormenor curioso da Cidade de Oaxaca (CO) sao as mutacoes que os bonitos jardins interiores das referidas lojas sofriam a noite, dando lugar a bares elegantemente decorados. A Catedral de Santo Domingo e, na nossa opiniao, o que de mais assinalavel CO tem. Visitada pelo Papa Joao Paulo II em 1979, esta Catedral apresenta pormenores arquitetonicos impressionantes, do exterior ao teto, passando pelos varios pequenos altares. Voltamos duas vezes no mesmo dia e admito, sem grande margem para duvidas, que foi a Catedral mais bonita onde alguma vez entrei. Na CO chove, nesta altura, intensamente entre as 17h e as 19h todos os dias, embora no restante tempo o sol brilhe agradavelmente para todos os traseuntes que calma e alegremente polvilham as ruas.

A CO conta tambem com um fenomeno extremamente peculiar. Apos o cessar das torrenciais chuvas e ja de sol posto, milhares de escaravelhos invadem as ruas. A grande maioria encontra-se de carapaca para baixo e de patas para cima e a sua quantidade e tal que e necessario olhar-se para o chao enquanto se caminha para nao se pisar nenhuma. Em conversa com um mexicano, dias depois em Puerto Escondido, foi-me contado que ha 12 anos atras, a quantidade de escaravelhos era tal que tornava impossival a travessia pedonal de qualquer rua.

Com a pequena Cidade de Oaxaca considerada vista, rumamos a Puerto Escondido. Chegamos zonzos a esta Praia do pacifico debvdo a uma das mais massacrantes viagens de van das nossas vidas. Foi numa sexta-feira que fizemos este perigoso trajeto, num pequeno veiculo lotado. Numa estrada de constante curva contra curva a ladear umas ingremes escarpas, o desafio de chegar a Puerto Escondido sao e salvo ia aumentando a medida que nos comecavamos a deparar com varias pedras no caminho, fruto de recentes derrocadas. Para acentuar o grau de dificuldade, a chuva comecou a cair intensamente apos um hora e o nevoeiro aumentou ate chegar a cateoria de visibilidade quase nula. A alta velocidade a que o condutor insistia em fazer o percurso, tambem nao contribuiu para nos acalmar, assim como a alegre conversa que mantinha com o colega do lado e que o convidava a tirar, constantemente, os olhos da estrada. Enquanto todas estas condicoes nos faziam temer pela nossa seguranca, as musicas rancheiras que o autoradio berrava ameacavam afetar, permanentemente, a nossa sanidade. Apos sete horas e uns pozinhos, la chegamos ao destino, combalidos como se tivessemos desafiado uns segurancas de uma qualquer discoteca de Santos e as coisas tivessem corrido mal para o nosso lado.

Puerto Escondido! Que bela localidade para se recuperar das dores das costas que se vao intensificando a medida que as malas vao ficando cheias de livros e alguns souvenirs (no meu caso nao e bem assim, porque ja perdi 4 pecas de roupa…o que torna a minha bagagem mais leve do que no inicio…).

Instalados a 100 pesos (cerca de 6 euros) por noite, num hotel cujo anfitriao foi sempre de uma extrema simpatia e disponibilidade, Puerto Escondido (PE) sera recordado como uma etapa agridoces da nossa viagem. As nossas experiencias variaram entre as muito boas e as mas.

Carregadas de experiencias, as noites de PE foram intensas. To make a long story short, na primeira noite conhecemos um italiano chamado Matias e uma Mexicana, cujo nome teremos que aceitar que se escapuliu para sempre dos nossos cereberos, que nos guiaram pelo centro da verdadeira experiencia Oaxaqueña. Perante estes gentis anfitrioes, ficamos em divida para sempre. Destas tres noites destaco um comico episodio, que passarei a descrever de seguida:
Na terceira noite em PE, tinha acabado de ser abordado, pela segunda vez, por um gigante Australiano e tivemos um pequeno inicio de arrufo nas casas de banho. Quando sai, dirigi-me para o centro da pista, onde se encontrava o Formiga e um casal que entretanto tinhamos conhecido. Esta era a ultima noite de um mediatico bar de Praia em PE, cuja localizacao era em cima de umas rochas, encontrando-se muito bem frequentado. Passei pelo bar para buscar mais uma bebida quando avisto o tal Australiano a incomodar persistentemente uma rapariga que se encontrava junto a um dos muros de madeira que delimitavam o bar (e o separava dos rochedos que o sustentavam). Perdido ha segundos nos meus pensamentos sobre o quao desagradavel este individuo estava a ser, observei-o, estupefacto, a tropecar, rolar sobre a rapariga com quem falava e a desaparecer do meu horizonte em direcao ao abismo que, apesar de nao ser extremamente fundo, era impiedoso a julgar pelas escoriacoes nos bracos, maos e face que restaram no corpo deste pobre bebado. Corri para o muro e fui o primeiro a observar que ele ainda se encontrava consciente. Rapidamente foi circundado de pessoas e retirado dali. Como ‘ao menino e ao borracho, poe Deus a mao por baixo’, foi com algum espanto que passado 15 minutos volto a ve-lo dentro do bar, de bebida na mao e de sangue a jorrar pelas suas recentes e inumeras feridas…

Temendo dar uma ideia enviesada da realidade, PE nao teve so episodios noturnos desprovidos de qualquer caracter cultural. Alugures nas noites quentes desta Praia, toquei todo o meu repertorio de bossanova num restaurante muito tipico de paredes verdes fluorescentes, cujo propietario era um carismatico poeta, ex-recluso, que estudava com afinco os meandros da biologia, uma vez que toda a sua obra se baseava na comparacao do comportamento do Homem com o dos restantes elementos da natureza. A ele voltamos mais tres vezes e conversamos largas horas em diferentes dias.

Nos ultimos dias em PE, conhecemos um senhor chamado Antonio que nos levou Pacifico adentro para pescarmos atum. Saindo pelas 7h da manha, Antonio levou-nos uma especialidade sua para provarmos, caindo-nos como algo indigesto naquele horario. Voltamos pouco antes do almoco para nos refastelarmos com uma grandiosa patuscada de peixe, por nos pescado. Com uma insistencia invulgar, Antonio seguiu-nos o resto do dia (supostamente, o nosso ultimo em PE) para nos vender artesanato, pedido ao qual o Formiga acedeu passado umas horas, penso que mais por cansaco do que propriamente por interesse, dando-lhe o dinheiro para que este patriarca Mexicano fosse buscar o material e o levasse ao nosso hotel. Mas ele nunca apareceu! Adiamos a partida para San Cristobal de las Casas um dia, palmilhamos as ruas de PE e de Zinacatela durante um dia inteiro, mas de Antonio nem sinal…


De clima pesado, jantamos, vimos os Miami Heats vencerem os nossos San Antonio Spurs e arrecadarem o titulo da NBA e la colocamos as nossas pesadas mochilas na bagageira do autocarro. Esperava-nos San Cristobal, cidade precidida por uma reputacao imaculada e que cuja experiencia nos comoveu de tal forma que acabamos por ficar o quadruplo do tempo que tinhamos estimado. O ideal para repor os niveis de felicidade, adrenalina e emocao…

P.S.: dias mais tarde percebemos tambem que o que tinhamos pescado, nao tinha sido 12 atuns, mas sim 12 bonitos...sao da mesma familia, mas com muito menos qualidade...Grande cabrao esse Antonio, hein...

Monday, July 8, 2013

Cidade do Mexico - Recomendo!!!

‘Pernas para que vos quero, se tenho asas para voar’ – Frida Khalo

Sao sete horas da manha do dia 1 de junho de 2013 quando pousamos as mochilas e a guitarra no solo da Cidade do Mexico, volvidos que estao dois dias inteiros em transito, cujo inicio foi a ja tao longinqua cidade de La Paz.
Deparando-nos com uma ainda, relativamente, calma cidade devido a madrugadora hora, demos inicio ao ritual de busca de um local para dormir que nos levou ao celebre hostel da central Plaza Zocalo. Instalamo-nos num dormitorio com bom aspeto e eu volto a rececao para fazer algo que ja nao me lembro, quando recebo uma pancada nas costas. Ainda nem ha duas horas estava nesta cidade e ja estava a ser surpreendido por um amistoso reeconcontro com Pete Cunningham, o ingles com quem estivemos em Memphis e New Orleans. Preparei, de imediato, uma partida ao Formiga com o Pete a voltar junto dele no meu lugar. Depois de uns abracos e de uns rapidos updates combinamos reencontrarmo-nos para jantar e partimos a descoberta da Cidade do Mexico.

Chamando as coisas pelos nomes que sao supostos, a cidade capital do Mexico e designada por quem neste pais vive de DF (que significa Distrito Federal). A razao deve-se ao facto de, ha umas decadas atras, quando a Cidade do Mexico tinha uma dimensao muito menor, haverem varias cidades muito proximas que entretanto foram engolidas pelo crescimento avassalador da capital. Atualmente, tendo em conta a dificuldade que e isolar a Cidade do Mexico pelos seus limites oficiais, opta-se por se chamar a toda aquela metropole de DF.
Com as especificidades sobre o nome esclarecidas, passemos entao a forma! Circundada por uma cordilheira de montanhas e vulcoes, as suas encostas seguravam o lago que ali existia antes de os Aztecas comecarem a roubar espaco ao lago para construirem a sua cidade a que chamarm de ‘Tenochtitlan’. Imaginem agora a segunda maior metropolde do mundo, enterrada num vale que um dia foi um extenso lago. E fascinante estar no topo de um edificio central, olhar para qualquer direcao e ver a cidade a prolongar-se encostas acima!

A principal caracteristica a saltar a vista a quem chega a esta cidade e a sua intensidade. Desde o trafego de pessoas ao de carros, passando pelo clima ou pela quantidade de informacao, tudo e em larga escala, continuo e presente. Sente-se na pele a vibracao desta cidade! Contudo, da mesma forma que desaconselho a cardiacos, recomendo vivamente a todos os que se sentem na plena posse das suas capacidades e que nao cedem ao cansaco de serem surpreendidos em cada esquina.

Com acessibilidades de fazer inveja as maiores capitais europeias, DF e palco de um contraste interessante. Quando os espanhois chegaram a Tenochtitlan e comecaram a destruir o patrimonio Azteca, o general Cortez ordenou que as suas tropas ficassem sediadas numa localidade a sul, chamada Coyoacan. Suficientemente longe do centro que estava a ser destruido, mas relativamente perto para que se pudessem deslocar todos os dias ate ele, Cortez mandou construir dezenas de casas baixas, de arquitetura colonial, organizadas em ruas de largura media, nao descurando a plantacao de arvores que pretendiam fornecer a esta agradavel zona, largos trechos de sombra. Em simultaneo, foram tambem construidas Catedrais e Basilicas de Ordem Crista para os soldados e novos colonos que entretanto chegavam de Espanha. Muitos anos mais tarde, esta regiao (que entretanto foi abracada pelo crescimento da Cidade do Mexico de tal forma que hoje e uma regiao, relativamente, central) foi o local que albergou Trotsky, sua esposa, seu pai e irmaos quando estes pediram asilo político ao Mexico, devido a sagaz perseguicao iniciada por Estaline. Por detrás deste asilo esta um casal carismático e muito relevante na historia do Mexico: Diego Rivera e Frida Khalo!
Interessados na perspetiva política e ideologica que Leon Trotsky desenvolvia, foi Diego Rivera quem pressionou o Presidente Mexicano, Lazaro Cardenas, a conceder o asilo político, assumindo o proprio a responsabilidade de albergar o exilado em sua casa. Este excitante clima de partilha de ideias conheceu um final abrupto quase dois anos depois, com Leon Trotsky a admitir que mantinha um affair com Frida e que nao conseguia mais viver de consciencia tranquila, com a sua familia (esposa incluida), em casa de Diego. Em defesa propia, Frida alegou que so o fazia por Vendetta, apos ter apanhado em flagrante delito Diego Rivera com a sua irma.

Dispensando quaisquer apresentacoes, Frida Khalo e fascinante!

Cheguei a DF achando Frida uma mulher misteriosa, interesante, mas feia e sai, dez dias depois, completamente fa da sua beleza. Fiel a sua mente e de forte caracter, Frida Khalo foi, desde pequena, mais forte do que a sua fragil vida. Resistindo a varios revezes fisicos como o acidente com o eletrico, um aborto ou a poliomielite que a obrigou a cortar um pe, Frida Khalo e uma onda de luz num colorido Mexico que se apaga para a ver. A sua casa e hoje um museu e o seu legado encontra-se por la exposto, assim como pelas melhores galerias do mundo, tal como o MoMA em New York.
Escusado sera acrescentar que Coyoacan e uma zona de visita obrigatoria a quem vai a DF, sendo uma lufada de ar fresco que carrega um revivalismo acolhedor e colorido.

Uma dica importante para quem visita DF e nao se deixar enganar pelos pacotes turísticos para atracoes como a luta livre, Teotihuacano u Xochimilco. Como medida de exemplo, o pacote para a luta livre era de 45 USD. Contudo, e perfeitamente possivel ir e vir de metro e comprar o bilhete nas castica bilheteira da Arena Mexico, tudo por um custo equivalente a 4 USD. Se se quiser jantar, ha por la uns comedores (restaurantes pequenos, com menu reduzido, tipicamente mexicanos) onde se pode jantar pelo equivalente a 2 USD.

A luta livre mexicana e algo de tao amador, que se torna extremamente engracado ao inicio. As palhacadas sao tao mal ensaiadas e exageradas que quase soa impossivel sequer uma crianca achar alguma piada a tal entretenimento. A realidade e que e um fenomeno que move multidoes! Na minha opiniao, torna-se fastidioso ao fui de uma hora e um martirio ao fim de duas. Ainda assim, recomendo a visita! The beauty is in the eyes of the beholder e posso nao ter sabido captar a essencia da tao apreciada lucha libre mexicana.

Teotihuacan e Xochimilco sao dois pontos altos na cultura de DF. O primeiro e um complexo de piramides que funcionou como uma cidade do povo Mexica (atualmente designado de Azteca) onde viveram varias dezenas de milhares de pessoas e onde se realizou o sacrifico da vida humana em homenagem aos deuses, por milhares de vezes. Por sua vez, Xochimilco e uma zona da periferia de DF que contem um lago que se subdivide em varias arterias de agua, ao redor de casas cujo unico transporte possivel ate elas sao uns barcos estreitos e compridos. Havendo centenas deles, e possivel alugar-se um destes barcos (e respetivo condutor) e passear pelas varias ruas desta cidade, um pouco a imgem de Veneza, embora muito menos citadino. Ao fim de semana, especialmente ao sabado, pode observar-se varios grupos de jovens que compram alcool, contratam um cozinheiro, trazem uma aparelhagem e fazem a sua festa a bordo. Eu e o Formiga testemunhamos mais de uma dezena destas discotecas flutuantes.

Seguindo uma onda de recomendacoes, nao posso omitir o Museu Mural Diego Rivera, no qual esta o epico mural que conta toda a historia recente do Mexico, ou o Museu de Antropologia, cotado como o melhor do mundo nesta materia. Para visitar o segundo, aconselha-se uma noite bem dormida e um dia inteiro. (Definitivamente, nao e para meninos!)

Por ultimo, recomendamos uma visita a Cidade Universitaria de UNAM (Universidad Nacional Autonoma de Mexico) que e a maior do mundo, possui uma das melhores vistas sobre DF e dezenas de murais dos maiores artistas mexicanos, alguns dos quais tao fascinantes que sao, inclusivamente, considerados patrimonio mundial.

Pois e! E isto que se faz quando se fala na Cidade do Mexico: recomenda-se!

E obvio que temos varias estorias pessoais para contar, mas que penso que assumem um caracter secundario face a estes factos e locais que vos contei. Num tom diferente, este post pretende ser um pouco mais contemplativo e menos ‘vivido’. Com tanta vida que ha em DF, contempla-la será, por si so, uma experiencia suficientemente compensadora.

P.S.: Um agradecimento especial ao Manel, ao Tomas e ao Miguel que nos apresentaram a varias pessoas em DF e com quem passamos um par de belos seroes.

P.S.2: Com o Pete partilhamos 3 dias inteiros e 4 noites. Sem duvida, uma personagem quem marcara esta viagem. 

Monday, July 1, 2013

Viva La Vida! Chegamos ao Mexico!

No Mexico celebra-se a vida com boa disposicao, alegria e muita cor. Neste pais, nenhum dos cinco sentidos e menosprezado e o nosso espirito descola do chao e vai arriba arriba em direcao a um lugar que ate entao nunca foi visitado, acomodando-se por la de calcoes, oculos escuros e um sorriso contagiante na cara!
Comecando pelo principio, este pais foi-nos apresentado de uma forma muito atabalhoada e caricata. No momento em que entravamos pela fronteira de Tijuana, noroeste do Mexico, e enquanto ja avistavamos a maior bandeira mexicana que existe no país (e acreditem que e um país com bandeiras bem grandes) fomos mudados do nosso autocarro para uma minivan com outras pessoas que carregavam varias bagagens comerciais, ate ao local onde se faz a vistoria as bagagens. No meio da confusao de malas a entrar e a sair do tapete rolante do raio-x, ouvimos o guarda gritar ao fundo num tom descontraido ‘voces dois, carreguem no botao e passem para la’. Seguimos estas instrucoes e apos percorrer o corredor que ligava a zona do raio-x a minivan que entretanto ja nos esperava em territorio mexicano, perguntei ao Formiga ‘viram o teu passaporte?’, ao que ele respondeu ‘Nao! Nem sequer olharam…entao tambem nao tens qualquer carimbo?’ ao que retorqui negativamente. Desta forma encontravamo-nos em territorio mexicano, sem qualquer notificao de que entramos assim como sem qualquer prova de que saimos dos EUA. Guardamos o bilhete para provar que saimos dos EUA, nao va ser suspeito nao termos qualquer indicacao da saida do país apos o termino do visto de turista.
Mexico 1 – EUA O em materia de coolness!
A primeira paragem foi Tijuana, mas apenas por uma hora, uma vez que seguimos logo para San Quintin, uma das principais vilas do norte da Baja California. Foram tantas as vezes que fomos desaconselhados a ficar em Tijuana que quase nao equacionamos la ficar, mas como iríamos testemunhar nos locais seguintes, a inseguranca no Mexico e um tema claramente sobrevalorizado. Obviamente que ha ruas perigosas nas suas metropoles, assim como carteis de droga nas montanhas do norte e guerrilheiros zapatistas no sul, mas com um minimo de bom senso, e possivel fazer-se uma estadia descontraida, segura e bem prazeirosa.
A vila de San Quintin nao era mais do que uma estrada com edificios rasos de ambos os lados. Com uma permanente poeira no ar, a escuridao meio asustadora da noite, contrastava com uma claridade forte como se aqui o sol fosse mais claro. Os olhos andavam sempre meio fechados, ora devido a poeira, ora devido a tal feroz claridade. Apos uma noite onde cantei ao desafio, num karaoke, o repertorio de Juan Luis Guerra e de Beatles com um mexicano simpatico, enquanto o Formiga se batia taco a taco com outro senhor que jogava snooker so com uma mao, decidimos que ali nao era sitio para pousar. No dia seguinte, apos os primeiros nachos de toda a viagem, entramos num luxuoso autocarro (sem ironia) para enfrentar 24 horas de viagem ate La Paz.
Na pequena cidade costeira de La Paz, que faz do Mar de Cortez o seu quintal e sustento, tiramos as primeiras ‘ferias’ da viagem. Aqui ficamos durante sete noites e aproveitamos para colocar os afazeres em dia como lavar a roupa, escrever cartas, regularizar mails, etc.
La Paz e um local que tem no turismo e na pesca as pedras basilares do seu funcionamento. E limpa, ordenada e nao tem muito trafego. Culturalmente nao tem muito para oferecer, mas geograficamente segura o seu lugar de destaque com praias como Balandra (considerada pela revista Travel como uma das 5 melhores do mundo) ou com a Isla Espiritu Santo que contem flora de primeiro nivel mundial. No dia em que viajamos ate ela vimos baleias , largas centenas de golfinhos, nadamos com lobos marinhos e fizemos snorkeling junto de rochas cuja superficie submersa estava coberta de peixes para os varios gostos. O condutor da nossa lancha, descendente de quarta geracao da tribo que ainda permanece como os únicos habitantes desta ilha surpreendeu-nos ao aparecer junto de nos, enquanto nadavamos, com um peixe que tinha apanhado com as maos. Uau!
Outro ponto de destaque em La Paz foi a praia de Balandra. Sendo necessario uma viagem de 30 a 40 minutos de autocarro, esta praia possui uma beleza rara com a areia branca a encontrar uma agua tao cristalina quanto possivel. Em forma de baia, esta praia tem apenas o inconveniente de ter uma profundidade pela cintura durante tantas centenas de metros que acabamos por desistir de mandar um mergulho como mandam as regras e cinjimo-nos ao chapinhar infantil que a praia nos obriga.
Ao setimo dia e ja com o astral bem cheio de La Paz arrancamos para uma viagem de dois dias (Ferry + autocarro) ate a Cidade do Mexico, uma das paragens mais aguardadas de toda a viagem.
A Baja California nao me convenceu. E, sem sombra para discussoes, uma regiao de sonho para quem gosta de vida marinha, lindas praias e toda aquela animacao noturna estival. Contudo, falta naquele ar qualquer coisa que nos faca querer voltar. Qualquer especificidade, caracteristica social ou pormenor bizarro que a faca ficar alojada no nosso cerebero num lugar facilmente identificavel.
Na mina opiniao, La Paz e apenas um sitio porreiro para pasar um fim de semana.
Curiosidades:
.O termo Gringo foi inventado pelos mexicanos quando o Mexico combatia contra os EUA pelas suas provincias do norte como o Louisiana, California ou Novo Mexico. Os soldados americanos tinham um uniforme verde e a expressao significava ‘GREEN GO’.
.Jacques Costeau considerou o Mar de Cortez, que banha a zona Este da Baja California, como o ‘aquario do mundo’ devido a variedade de vida marinha, incomparavel com outra parte do mundo.
.Na Isla Espiritu Santo, comecaram a fazer criacao de cabras ha umas decadas atras, para servir de alimento aos locais. Devido a facilidade de reproducao deste animal, rapidamente se perdeu o controlo e o numero de cabras ascendeu as dezenas de milhar. Para acabar com tal ‘impestacao’, o governo contratou um helicopetro com snipers que, do ceu, chacinaram grande parte destes animais. Como se nao bastasse, ainda deixaram as cabras ja sem vida no terreno, contribuindo para a proliferacao de doencas. Quando perguntei qual a razao para tal ato, responderam-me: ‘Porque foi o governo! E do governo esperamos sempre algo estúpido e ineficiente.
.Uma das praias mais famosas da zona de La Paz e a praia de Pichilingue. Esta praia tem este nome desde a altura em que os piratas ali chegaram e perguntaram: ‘Do you speak english?’ Dai, este nome evoluiu ate Pichilingue  :)