Monday, September 9, 2013

Guate Guate - a boa Guatemala!



Se me tivessem pedido para indicar no mapa mundo onde ficava a Guatemala há um ano atrás, eu não saberia como o fazer. Embora soubesse que se encontrava localizada na América Central, não sabia como encaixá-la no puzzle juntamente com as Honduras, El Salvador, Nicarágua…

Hoje posso garantir que nunca mais esquecerei como o fazer!

Chegámos à península de Flores (grandes semelhanças com a ilha do Baleal) ao início de uma tarde de semana, sob um sol delicado e uma temperatura amena. Pelo caminho fizemos um pit stop na capital do Belize para deixar alguns turistas. Belize é a única colónia Inglesa da América Central (e do Sul se não contar-mos com as Malvinas) e a sua capital, Belize City, parece pobre, muito suja e com um aspeto inseguro. A sua energia e dinâmica é completamente diferente das restantes cidades da América Central e isso nota-se logo nos primeiros minutos.

Uma vez em Flores, instalámo-nos num hostel com vista para o lago Petén Itzá e fomos passear o resto do dia pela península. Entre mergulhos e leituras, o dia passou-se de forma relaxada. No dia seguinte fomos a Tikal, a terceira cidade do triângulo Maya. Já abordei as nossas experiências nas cidades Mayas neste blog, restando-me apenas mencionar os 45 minutos que eu e o Formiga passámos sentados e isolados na Acrópole de Tikal e que souberam como uma intervenção divina! Entre construções inspiradoras e paisagens de cortar a respiração (Tikal foi palco de várias rodagens de filmes de sucesso planetário, tal como o primeiro Star Wars, ‘the good one’ como nos referiu o Guatemalteco que nos guiou selva adentro), aqueles momentos a sós serviram-nos para relembrar porque deixámos empregos e vendemos vários dos nossos bens para fazer esta viagem. Como cereja no topo do bolo, acabámos essa noite os dois, entre mota e cervejas, no terraço do hostel a apreciar uma intensa chuva de raios sob a floresta tropical de Tikal que se refletiam na água lago Petén, que nos separava dela. A trovoada não só estava tão longe de nós que nem sequer chovia onde estávamos, como estivemos toda a noite de manga curta a apreciar a leve brisa que tão bem nos sabia na pele.

A curta e prazerosa estadia em Tikal fazia antever uma Guatemala cool e com aquela energia de que se não forçarmos a experiência, ela se dará com maior esplendor. Sem uma mente invasiva e com os corações esvaziados de urgência, chegámos a Semuc Champey. Num local montanhoso, bem distante de qualquer cidade, onde os geradores funcionam quatro horas por dia, nós caminhámos pelas montanhas, nadámos nos maravilhosos lagos que se formaram devido a uma derrocada que atingiu em cheio o leito de um rio e partilhámos experiências com pessoas a quem não víamos a cara, devido ao facto de os geradores se desligarem à meia-noite e nós seguirmos o rumo das conversas até ao fim na cabana central, onde todos se juntavam à conversa.

Semuc Champey é bonito! Muito bonito mesmo! Contudo, a nossa experiência foi, em parte, estragada por um empregado do hostel que, deselegantemente, nos tentou enganar. Ao aperceber-se que eu e o astuto Formiga erámos tipos atentos e algo inflexíveis nestas ocasiões, ele demonstrou a sua frustração e baixo nível ao ofender a nossa nação e as nossas mães.

O terceiro destino na Guatemala foi a antiga capital do país, Antigua. Fazendo jus ao seu nome (Antigua significa, em Espanhol, antiga), esta cidade de construção secular perdeu o título de capital devido aos constantes terramotos que sofria e que danificavam as suas infraestruturas. Com uma geografia muito semelhante a San Cristóbal de las Casas, no México, devido ao facto de se fazer circundar por uma cordilheira negra e cujo cume se encontra quase sempre coberto pelas nuvens, Antigua é uma peça-chave na história da Guatemala e o lugar dos bares, lojas e feiras mais charmosas deste país. Passear por esta cidade de piso muito irregular era, curiosamente, um deleite e a maioria indígena que a povoa é afável e de trajes bonitos. A sua arquitetura colonial e o pouco trânsito são traços únicos numa Guatemala que por vezes é confusa e cheia de novidades pouco bonitas.

Depois de um dia ou dois a vaguear pela cidade, vimos um documentário sobre a história dos últimos 50 anos Guatemaltecos (o nome do documentário é ‘Where the Mountains Tremble’) e visitámos um vulcão com um guia completamente inútil, cuja única informação que saía daquela boca era “until 2009 one thing, after that very different..very very different”. Além deste ‘excesso de informação’, também me questionou duas vezes como era o Brasil quando eu lhe dizia que era Português, apresentou-se de uma forma bastante insólita, pediu apenas a metade do grupo para se apresentar, desaparecia a cada dez minutos, perseguiu uma rapariga alemã com imensas perguntas em Espanhol mesmo depois de ela lhe ter referido imensas vezes que não falava tal idioma, etc.

Antigua foi também o local onde me roubaram a máquina fotográfica Pentax K7. Encontrada num golpe de sorte no site Custo Justo e habilmente negociada, esta Pentax fez os seus últimos registos sob minha propriedade no bar ‘rainbow’ na noite anterior ao delito, na qual eu, o Formiga e o Robert Johnson tínhamos atuado para um bar cheio e divertido. Arrancámos aplausos, sorrisos, tirámos fotos…foi uma noite top nesta viagem.

Não há bem que sempre dure e os próximos dias viriam a tornar-se exemplo disso…

P.S.1: O documentário ‘Where the Mountains Tremble’ é altamente recomendável para quem tem interesse em conhecer um pouco sobre a história recente da Guatemala. Esta peça de enquadramento histórico começa com o pressing do Governo dos EUA para que o presidente abandonasse o seu cargo em 1953 e, assim, se iniciasse uma suposta democracia. Da perseguição aos ‘subservientes’ das montanhas, à tortura de supostos guerrilheiros, passando pelo atentado à Embaixada de Espanha em 1980, este doc aborda todas as injustiças e crueldades sofridas pelo povo guatemalteco, especificamente, os de origem indígena.

P.S.2: Na viagem de van que fizemos de Semuc Champey até Antigua, ocorreu um incidente meio insólito. Numa viatura recheada de pessoas dos vários continentes, uma mulher Sul Coreana impediu aos pontapés que um Americano puxasse as costas de um banco que se encontrava deitada sobre o assento. Após uma desagradável troca de palavras e amuos, o já conformado Americano colocou a sua mochila nas costas da cadeira que foi impedido de levantar. Todavia, a estranha e pouco simpática Coreana inicia também uma longa série de pontapés na mochila que lhe estaria a incomodar o espaço que ela queria ter para as pernas… O originário do Colorado e também amante de guitarras Martin comportou-se como um cavalheiro e controlou calmamente uma situação que, nas mãos de qualquer outra pessoa, teria descambado para a lambada…