Como de costume,
chegamos ao nosso destino depois de uma viagem longa e massacrante. Desta vez,
as nossas inimigas nao foram apenas as curvas, mas tambem as vezes que tivemos
que trocar de van devido ao corte das
ruas para a realizacao de varias manifestacoes que tinham lugar um pouco por
toda a provincia de Chiapas.
Instalados,
literalmente, no meio do mato de Palenque no hostel ‘El Pachon’, optamos por
descansar o primeiro dia devido a hora avancada a que chegamos, tarde demais
para visitar a cidade Maya. No dia seguinte, levantamo-nos cedo, fizemos check out e fomos visitar as ruinas da
cidade Maya de Palenque. Foi divinal!
Numa cidade que
tem apenas 2% dos seus 1800 edificios a descoberto, contratamos um carismatico
guia que nos guiou pela cidade de forma fascinante, enquanto partilhava alguns
detalhes historicos muito interessantes. Sendo a primeira cidade Maya e uma das
tres maiores de sempre, juntamente com Chichen Itza (maravilha do mundo
moderno) e Tikal (no norte da Guatemala), Palenque foi uma experiencia
marcante, nao apenas pelos seus pormenores culturais unicos, mas tambem pela
experiencia de visitar um local tao grandioso e partilha-lo com tao poucas
pessoas!
Um dos factos mais
curiosos sobre as tres cidades Mayas que visitamos (e que enunciei
anteriomente) sao as contraditorias informacoes que os guias nos contavam sobre
as caracteristica da cultura Maya. Por exemplo: Em Palenque, indicaram-nos que
era uma falacia pensar-se que os Mayas eram pessoas de baixa estatura e que o
facto de os degraus serem muito curtos devia-se ao Z que devia ser descrito na
escadaria aquando da subida ate ao topo da piramide, pois desta forma,
demonstrava-se submissao aos Deuses. Acrescente-se ainda que, o facto de as
portas serem de altura reduzida era justamente para obrigar as pessoas a
curvarem-se para entrar e, assim, prestar tambem uma homenagem ao motivo pelo
qual aquela piramide tinha sido construida, seja ele um Astro, um Deus ou um Rei.
Por outro lado, em Chichen Itza foi-nos referido que o povo Maya era muito
baixo e, em Tikal, a tese era de que a grande maioria do povo Maya era muito
baixo, enquanto o Rei tinha mais de 20 centimetros a mais que a media do seu
povo. Mas as incongruencias nao se ficaram por aqui e foram para todos os gostos...
Divergencias a
parte, o que podemos reter numa breve descricao e que os Mayas eram uma
civiliazacao muito evoluida nas materias da matematica, arquitetura e
astronomia. Em resposta a tradicional questao colocada por todos os gringos ‘entao se eram tao evoluidos, porque se teve
tantos anos para redescobrir o conhecimento, supostamente, ja adquirido?’,a seca mas logica
afirmacao parece convencer ‘ok! Experimentem colocar uma bomba na NASA
para ver quantos anos vamos precisar para chegar ao nivel de conhecimento que
eles tem hoje’. ‘E quanto a
arquitetura semelhante a de outras partes do mundo?’, ‘meu amigo,
arquitetura e logica e logica nao tem nacao!’ Era assim que o guia justificava o facto de a cultura Maya ter cupulas e pormenores identicos ao de culturas arabes nas suas piramides. Eles defendem de que as cupulas nao sao esteticas, mas sim um pormenor de logica de construcao, logo ao estudarem bem a forma como deviam construir os edificios, era natural que as cupulas e outros formas arquitetonicas fossem utilizadas...
2 – 0!
Completamente esclarecidos, seguimos caminho entre piramides, cascatas e outros
motivos de interesses variados. Nesse mesmo dia, partimos para Valladolid, na
provincia de Yucatan, chegando apenas no dia seguinte. Esta provincia era das
poucas do sul do Mexicoque eu ja tinha ouvido falar, devido a sua honesta
descricao na musica de Lou Reed, Modern Dance: ‘Maybe i should go to yucatan,
where women are women, a man is a man, no one confused ever loses place with their
place in the human race’. Parece-me uma descricao bastante certeira, faltando,
no entanto, uma mencao aos mosquitos! Que Deus me impeca de sair da Argentina
se esta cidade nao foi aquela em que mais sofri com as mordidelas dos mosquitos
em toda a minha vida. Chegava a contar mais de 50 numa perna e tenho fotos para
comprovar. Andamos sempre sem repelente, uma vez que, segundo consta, nao ha
locao que valha ja que eles mordem mesmo apos uma recente aplicacao desse
malcheiroso spray.
Valladolid foi
interessante, mas nao fascinante! O primeiro dia foi passado a mandar mergulhos
num cenote (lagos subterraneos), no centro da cidade. Dos 2 aos 9 metros,
haviam rochas para todos os gostos de onde era possivel saltar para dentro de
agua. Com as criancas que ainda se manifestam em nos em delirio total (e porque
molhados os mosquitos tambem mordem menos)acabamos por ficar todo o dia a
saltar.
Satisfeitos com o
primeiro dia em Valladolid, decidimos visitar no segundo dia a incontornavel
maravilha do mundo moderno Chichen Itza. De agua na boca para conhecer a mais
mediatica das cidades do Triangulo Maya (Palenque, Chichen Itza e Tikal), as
nossas expetativas sairam defraudadas de tal forma que esse local tornou-se
brincadeira entre nos e sinonimo de fiasco. Claramente inflacionado pela sua
proximidade com Cancun, Chichen Itza e
menos impactante que Palenque e menos bonito que Tikal. Se acrescentarmos um
preco tres vezes maior, adicionar-mos a paisagem varios milhares de vendedores
ambulantes e partilharmos o recinto da cidade Maya com uma multidao digna de um
festival de verao, ficamos com a receita exata para um dia mal passado num
local de culto.
Nao ficamos
tristes! Nem sequer de ma onda pela desilusao. Sabiamos que tinhamos mais
ruinas Maya para ver e Palenque ja tinha sido interessante o suficiente para
despertar em nos o bichinho de tao enigmatica cultura.
De persistencia inesgotavel, os mosquitos mordiam com tal intensidade que
ambos concordamos que nao poderiamos estar mais dias em Valladolid. No dia
seguinte arrancamos num autocarro noturno para Mahahual, bem la no sul do
Mexico. Nesse dia ainda cortamos o cabelo, arranjamos as botas e fomos a mais
um cenote a cerca de 7 km da cidade. A sua beleza era inquestionavel, mas o
facto de nao se poder mergulhar, fazia de Xkeken um sitio algo macador. Foi
meio aborrecido o nosso ultimo dia em Valladolid.
Chegamos a
Mahahual de noite apos, adivinhem la, mais uma longa viagem de autocarro! Ja
comecavam a ser muitas as viagens acumuladas e sempre por terra. As costas e o
rabo ja nao eram os mesmos do inicio da viagem, mas a satisfacao pessoal de
sentir cada km que percorremos e a possibilidade de testemunhar o quao vasto e
diverso e o nosso planeta, e uma memoria que teria sempre que ficar associada a
uma viagem destas. A experiencia de partilhar tantos autocarros com tantas e
tao peculiares pessoas tem sido mais enriquecedor do que possa, a primeira
vista, parecer. Ate para nos! Todos os
desentendimentos a que assistimos, todos os condutores que nos levaram, todos
os conspiradores que ouvimos, todos os pro-guerra nos EUA, todos os campesinos
no Mexico, todas as figuras horrificas cujo comportamento nos fizeram zelar
atentamente pelos nossos bens e todas as horas que esgotamos a olhar pela
janela, sao parte indelevel da mutacao que se deu em nos desde marco.
Em Mahahual ha pouco que fazer! Muito pouco! Uma praia de agua cristalina e algumas opcoes de snorkeling sao o unico entretem nesta vila que, segundo me comentaram, o seu nome assemelha-se a uma gargalhada cibernetica monumental. A razao pela qual viemos a este perdido banco de areia foi para tentarmos ir ao segundo maior recife de coral do mundo, que esta localizado em frente ao Belize. Ora por falta de passageiros, ora devido a tempestades no mar, nunca tiramos os pes de Mahahual pelo que, ao fim de quatro longos dias, partimos para Chetumal. Desta cidade, sem qualquer ponta de interesse, esperamos o bus matutino que nos levou ate a Guatemala, via Belize.
Levamos connosco um pouco do Mexico (a minha tolerancia ao picante subiu substancialmente)! Foi mais um exemplo de que e necessario estar ou ter estado nos locais para se poder falar sobre eles. Nao presenciei nenhum momento de inseguranca e isso nao se deve a minha desatencao enquanto espectador. Com bom senso, e possivel uma fabulosa experiencia de mescla com os simpaticos mexicanos que tao bem recebidos nos fizeram sentir. Nota 10 para este paraiso de cores, onde a hospitalidade na chegada chuta para a frente a retirada ate ao limite do razoavel! Seis meses nao sao nada para a America do Norte e Central. Se voltasse, voltaria para seis meses no Mexico.
Hasta la vista, chicos!