Monday, September 9, 2013

Guate Guate - a boa Guatemala!



Se me tivessem pedido para indicar no mapa mundo onde ficava a Guatemala há um ano atrás, eu não saberia como o fazer. Embora soubesse que se encontrava localizada na América Central, não sabia como encaixá-la no puzzle juntamente com as Honduras, El Salvador, Nicarágua…

Hoje posso garantir que nunca mais esquecerei como o fazer!

Chegámos à península de Flores (grandes semelhanças com a ilha do Baleal) ao início de uma tarde de semana, sob um sol delicado e uma temperatura amena. Pelo caminho fizemos um pit stop na capital do Belize para deixar alguns turistas. Belize é a única colónia Inglesa da América Central (e do Sul se não contar-mos com as Malvinas) e a sua capital, Belize City, parece pobre, muito suja e com um aspeto inseguro. A sua energia e dinâmica é completamente diferente das restantes cidades da América Central e isso nota-se logo nos primeiros minutos.

Uma vez em Flores, instalámo-nos num hostel com vista para o lago Petén Itzá e fomos passear o resto do dia pela península. Entre mergulhos e leituras, o dia passou-se de forma relaxada. No dia seguinte fomos a Tikal, a terceira cidade do triângulo Maya. Já abordei as nossas experiências nas cidades Mayas neste blog, restando-me apenas mencionar os 45 minutos que eu e o Formiga passámos sentados e isolados na Acrópole de Tikal e que souberam como uma intervenção divina! Entre construções inspiradoras e paisagens de cortar a respiração (Tikal foi palco de várias rodagens de filmes de sucesso planetário, tal como o primeiro Star Wars, ‘the good one’ como nos referiu o Guatemalteco que nos guiou selva adentro), aqueles momentos a sós serviram-nos para relembrar porque deixámos empregos e vendemos vários dos nossos bens para fazer esta viagem. Como cereja no topo do bolo, acabámos essa noite os dois, entre mota e cervejas, no terraço do hostel a apreciar uma intensa chuva de raios sob a floresta tropical de Tikal que se refletiam na água lago Petén, que nos separava dela. A trovoada não só estava tão longe de nós que nem sequer chovia onde estávamos, como estivemos toda a noite de manga curta a apreciar a leve brisa que tão bem nos sabia na pele.

A curta e prazerosa estadia em Tikal fazia antever uma Guatemala cool e com aquela energia de que se não forçarmos a experiência, ela se dará com maior esplendor. Sem uma mente invasiva e com os corações esvaziados de urgência, chegámos a Semuc Champey. Num local montanhoso, bem distante de qualquer cidade, onde os geradores funcionam quatro horas por dia, nós caminhámos pelas montanhas, nadámos nos maravilhosos lagos que se formaram devido a uma derrocada que atingiu em cheio o leito de um rio e partilhámos experiências com pessoas a quem não víamos a cara, devido ao facto de os geradores se desligarem à meia-noite e nós seguirmos o rumo das conversas até ao fim na cabana central, onde todos se juntavam à conversa.

Semuc Champey é bonito! Muito bonito mesmo! Contudo, a nossa experiência foi, em parte, estragada por um empregado do hostel que, deselegantemente, nos tentou enganar. Ao aperceber-se que eu e o astuto Formiga erámos tipos atentos e algo inflexíveis nestas ocasiões, ele demonstrou a sua frustração e baixo nível ao ofender a nossa nação e as nossas mães.

O terceiro destino na Guatemala foi a antiga capital do país, Antigua. Fazendo jus ao seu nome (Antigua significa, em Espanhol, antiga), esta cidade de construção secular perdeu o título de capital devido aos constantes terramotos que sofria e que danificavam as suas infraestruturas. Com uma geografia muito semelhante a San Cristóbal de las Casas, no México, devido ao facto de se fazer circundar por uma cordilheira negra e cujo cume se encontra quase sempre coberto pelas nuvens, Antigua é uma peça-chave na história da Guatemala e o lugar dos bares, lojas e feiras mais charmosas deste país. Passear por esta cidade de piso muito irregular era, curiosamente, um deleite e a maioria indígena que a povoa é afável e de trajes bonitos. A sua arquitetura colonial e o pouco trânsito são traços únicos numa Guatemala que por vezes é confusa e cheia de novidades pouco bonitas.

Depois de um dia ou dois a vaguear pela cidade, vimos um documentário sobre a história dos últimos 50 anos Guatemaltecos (o nome do documentário é ‘Where the Mountains Tremble’) e visitámos um vulcão com um guia completamente inútil, cuja única informação que saía daquela boca era “until 2009 one thing, after that very different..very very different”. Além deste ‘excesso de informação’, também me questionou duas vezes como era o Brasil quando eu lhe dizia que era Português, apresentou-se de uma forma bastante insólita, pediu apenas a metade do grupo para se apresentar, desaparecia a cada dez minutos, perseguiu uma rapariga alemã com imensas perguntas em Espanhol mesmo depois de ela lhe ter referido imensas vezes que não falava tal idioma, etc.

Antigua foi também o local onde me roubaram a máquina fotográfica Pentax K7. Encontrada num golpe de sorte no site Custo Justo e habilmente negociada, esta Pentax fez os seus últimos registos sob minha propriedade no bar ‘rainbow’ na noite anterior ao delito, na qual eu, o Formiga e o Robert Johnson tínhamos atuado para um bar cheio e divertido. Arrancámos aplausos, sorrisos, tirámos fotos…foi uma noite top nesta viagem.

Não há bem que sempre dure e os próximos dias viriam a tornar-se exemplo disso…

P.S.1: O documentário ‘Where the Mountains Tremble’ é altamente recomendável para quem tem interesse em conhecer um pouco sobre a história recente da Guatemala. Esta peça de enquadramento histórico começa com o pressing do Governo dos EUA para que o presidente abandonasse o seu cargo em 1953 e, assim, se iniciasse uma suposta democracia. Da perseguição aos ‘subservientes’ das montanhas, à tortura de supostos guerrilheiros, passando pelo atentado à Embaixada de Espanha em 1980, este doc aborda todas as injustiças e crueldades sofridas pelo povo guatemalteco, especificamente, os de origem indígena.

P.S.2: Na viagem de van que fizemos de Semuc Champey até Antigua, ocorreu um incidente meio insólito. Numa viatura recheada de pessoas dos vários continentes, uma mulher Sul Coreana impediu aos pontapés que um Americano puxasse as costas de um banco que se encontrava deitada sobre o assento. Após uma desagradável troca de palavras e amuos, o já conformado Americano colocou a sua mochila nas costas da cadeira que foi impedido de levantar. Todavia, a estranha e pouco simpática Coreana inicia também uma longa série de pontapés na mochila que lhe estaria a incomodar o espaço que ela queria ter para as pernas… O originário do Colorado e também amante de guitarras Martin comportou-se como um cavalheiro e controlou calmamente uma situação que, nas mãos de qualquer outra pessoa, teria descambado para a lambada…  

Monday, August 12, 2013

Mexico Lindo - Adios (Palenque, Valladolid, Mahahual e Chetumal)

Como de costume, chegamos ao nosso destino depois de uma viagem longa e massacrante. Desta vez, as nossas inimigas nao foram apenas as curvas, mas tambem as vezes que tivemos que trocar de van devido ao corte das ruas para a realizacao de varias manifestacoes que tinham lugar um pouco por toda a provincia de Chiapas.

Instalados, literalmente, no meio do mato de Palenque no hostel ‘El Pachon’, optamos por descansar o primeiro dia devido a hora avancada a que chegamos, tarde demais para visitar a cidade Maya. No dia seguinte, levantamo-nos cedo, fizemos check out e fomos visitar as ruinas da cidade Maya de Palenque. Foi divinal!

Numa cidade que tem apenas 2% dos seus 1800 edificios a descoberto, contratamos um carismatico guia que nos guiou pela cidade de forma fascinante, enquanto partilhava alguns detalhes historicos muito interessantes. Sendo a primeira cidade Maya e uma das tres maiores de sempre, juntamente com Chichen Itza (maravilha do mundo moderno) e Tikal (no norte da Guatemala), Palenque foi uma experiencia marcante, nao apenas pelos seus pormenores culturais unicos, mas tambem pela experiencia de visitar um local tao grandioso e partilha-lo com tao poucas pessoas!

Um dos factos mais curiosos sobre as tres cidades Mayas que visitamos (e que enunciei anteriomente) sao as contraditorias informacoes que os guias nos contavam sobre as caracteristica da cultura Maya. Por exemplo: Em Palenque, indicaram-nos que era uma falacia pensar-se que os Mayas eram pessoas de baixa estatura e que o facto de os degraus serem muito curtos devia-se ao Z que devia ser descrito na escadaria aquando da subida ate ao topo da piramide, pois desta forma, demonstrava-se submissao aos Deuses. Acrescente-se ainda que, o facto de as portas serem de altura reduzida era justamente para obrigar as pessoas a curvarem-se para entrar e, assim, prestar tambem uma homenagem ao motivo pelo qual aquela piramide tinha sido construida, seja ele um Astro, um Deus ou um Rei. Por outro lado, em Chichen Itza foi-nos referido que o povo Maya era muito baixo e, em Tikal, a tese era de que a grande maioria do povo Maya era muito baixo, enquanto o Rei tinha mais de 20 centimetros a mais que a media do seu povo. Mas as incongruencias nao se ficaram por aqui e foram para todos os gostos...
Divergencias a parte, o que podemos reter numa breve descricao e que os Mayas eram uma civiliazacao muito evoluida nas materias da matematica, arquitetura e astronomia. Em resposta a tradicional questao colocada por todos os gringos ‘entao se eram tao evoluidos, porque se teve tantos anos para redescobrir o conhecimento, supostamente, ja adquirido?’,a seca mas logica afirmacao parece convencer ‘ok! Experimentem colocar uma bomba na NASA para ver quantos anos vamos precisar para chegar ao nivel de conhecimento que eles tem hoje’. ‘E quanto a arquitetura semelhante a de outras partes do mundo?’, ‘meu amigo, arquitetura e logica e logica nao tem nacao!’ Era assim que o guia justificava o facto de a cultura Maya ter cupulas e pormenores identicos ao de culturas arabes nas suas piramides. Eles defendem de que as cupulas nao sao esteticas, mas sim um pormenor de logica de construcao, logo ao estudarem bem a forma como deviam construir os edificios, era natural que as cupulas e outros formas arquitetonicas fossem utilizadas...

2 – 0! Completamente esclarecidos, seguimos caminho entre piramides, cascatas e outros motivos de interesses variados. Nesse mesmo dia, partimos para Valladolid, na provincia de Yucatan, chegando apenas no dia seguinte. Esta provincia era das poucas do sul do Mexicoque eu ja tinha ouvido falar, devido a sua honesta descricao na musica de Lou Reed, Modern Dance: ‘Maybe i should go to yucatan, where women are women, a man is a man, no one confused ever loses place with their place in the human race’. Parece-me uma descricao bastante certeira, faltando, no entanto, uma mencao aos mosquitos! Que Deus me impeca de sair da Argentina se esta cidade nao foi aquela em que mais sofri com as mordidelas dos mosquitos em toda a minha vida. Chegava a contar mais de 50 numa perna e tenho fotos para comprovar. Andamos sempre sem repelente, uma vez que, segundo consta, nao ha locao que valha ja que eles mordem mesmo apos uma recente aplicacao desse malcheiroso spray.

Valladolid foi interessante, mas nao fascinante! O primeiro dia foi passado a mandar mergulhos num cenote (lagos subterraneos), no centro da cidade. Dos 2 aos 9 metros, haviam rochas para todos os gostos de onde era possivel saltar para dentro de agua. Com as criancas que ainda se manifestam em nos em delirio total (e porque molhados os mosquitos tambem mordem menos)acabamos por ficar todo o dia a saltar.
Satisfeitos com o primeiro dia em Valladolid, decidimos visitar no segundo dia a incontornavel maravilha do mundo moderno Chichen Itza. De agua na boca para conhecer a mais mediatica das cidades do Triangulo Maya (Palenque, Chichen Itza e Tikal), as nossas expetativas sairam defraudadas de tal forma que esse local tornou-se brincadeira entre nos e sinonimo de fiasco. Claramente inflacionado pela sua proximidade com Cancun, Chichen  Itza e menos impactante que Palenque e menos bonito que Tikal. Se acrescentarmos um preco tres vezes maior, adicionar-mos a paisagem varios milhares de vendedores ambulantes e partilharmos o recinto da cidade Maya com uma multidao digna de um festival de verao, ficamos com a receita exata para um dia mal passado num local de culto.
Nao ficamos tristes! Nem sequer de ma onda pela desilusao. Sabiamos que tinhamos mais ruinas Maya para ver e Palenque ja tinha sido interessante o suficiente para despertar em nos o bichinho de tao enigmatica cultura.

De persistencia inesgotavel, os mosquitos mordiam com tal intensidade que ambos concordamos que nao poderiamos estar mais dias em Valladolid. No dia seguinte arrancamos num autocarro noturno para Mahahual, bem la no sul do Mexico. Nesse dia ainda cortamos o cabelo, arranjamos as botas e fomos a mais um cenote a cerca de 7 km da cidade. A sua beleza era inquestionavel, mas o facto de nao se poder mergulhar, fazia de Xkeken um sitio algo macador. Foi meio aborrecido o nosso ultimo dia em Valladolid.

Chegamos a Mahahual de noite apos, adivinhem la, mais uma longa viagem de autocarro! Ja comecavam a ser muitas as viagens acumuladas e sempre por terra. As costas e o rabo ja nao eram os mesmos do inicio da viagem, mas a satisfacao pessoal de sentir cada km que percorremos e a possibilidade de testemunhar o quao vasto e diverso e o nosso planeta, e uma memoria que teria sempre que ficar associada a uma viagem destas. A experiencia de partilhar tantos autocarros com tantas e tao peculiares pessoas tem sido mais enriquecedor do que possa, a primeira vista, parecer. Ate para nos!  Todos os desentendimentos a que assistimos, todos os condutores que nos levaram, todos os conspiradores que ouvimos, todos os pro-guerra nos EUA, todos os campesinos no Mexico, todas as figuras horrificas cujo comportamento nos fizeram zelar atentamente pelos nossos bens e todas as horas que esgotamos a olhar pela janela, sao parte indelevel da mutacao que se deu em nos desde marco.

Em Mahahual ha pouco que fazer! Muito pouco! Uma praia de agua cristalina e algumas opcoes de snorkeling sao o unico entretem nesta vila que, segundo me comentaram, o seu nome assemelha-se a uma gargalhada cibernetica monumental. A razao pela qual viemos a este perdido banco de areia foi para tentarmos ir ao segundo maior recife de coral do mundo, que esta localizado em frente ao Belize. Ora por falta de passageiros, ora devido a tempestades no mar, nunca tiramos os pes de Mahahual pelo que, ao fim de quatro longos dias, partimos para Chetumal. Desta cidade, sem qualquer ponta de interesse, esperamos o bus matutino que nos levou ate a Guatemala, via Belize.

Levamos connosco um pouco do Mexico (a minha tolerancia ao picante subiu substancialmente)! Foi mais um exemplo de que e necessario estar ou ter estado nos locais para se poder falar sobre eles.  Nao presenciei nenhum momento de inseguranca e isso nao se deve a minha desatencao enquanto espectador. Com bom senso, e possivel uma fabulosa experiencia de mescla com os simpaticos mexicanos que tao bem recebidos nos fizeram sentir. Nota 10 para este paraiso de cores, onde a hospitalidade na chegada chuta para a frente a retirada ate ao limite do razoavel! Seis meses nao sao nada para a America do Norte e Central. Se voltasse, voltaria para seis meses no Mexico.


Hasta la vista, chicos!


Thursday, August 8, 2013

Puerto Escondido - fotos point&shoot

Puerto Escondido - Um local com muitas praias acessiveis a todos os gostos!







                                             Antonio, o grande pescador :)

Wednesday, August 7, 2013

San Cristobal de las Casas - Cidade especial!

‘Solidariedade = horizontal | caridade = vertical’ adaptado de uma longa lenga lenga de Eduardo Galeano no livro ‘Las venas abiertas de America Latina’

O negativismo que embalou a nossa viagem de autocarro, fruto do elaborado brinde de Antonio, o pescador mentiroso de Puerto Escondido (OK! Eu sei que os pescadores sao mentirosos, mas este era um grande pescador!), dissipou-se com os artilhados*(curiosidade 1) ares de San Cristobal de Las Casas, na velhinha e montanhosa provincia de Chiapas.

Viajando, sempre que possivel, de noite para poupar o dinheiro da estadia, chegamos a San Cristobal (SC) bem cedo. Rapidamente nos instalamos num hostel a 80 pesos (o equivalente a 5 euros por dia) e fomos fazer a habitual primeira incursao pela cidade desprovidos de qualquer mapa, recomendacao ou sequer ideia do que nos esperava. Nem ha cinco minutos estavamos a andar quando chegamos a longa, estreita e lindissima rua de Guadalupe. De movimiento intenso, mas estranhamente silenciosa, esta rua conta com varias lojas de tudo um pouco, mas essencialmente de artesanato chiapaneco e merchandising da guerrilha local EZLN (Ejército Zapatista de Liberación Nacional) cuja da figura de proa, o subcomandante Marcus, e a mais brilhante das varias estrelas deste movimento. Apos os 50 primeiros metros desta rua, percebi que o prognostico de estadia para tres dias era irreal e refleti sobre a justica dos astros. Quando o Universo nos brinda com algo negativo, logo trata de nos massajar a barriga com maos de veludo. Neste caso muito concreto, as maos talvez tivessem pulsos que ostentassem pulseiras do mais fino ambar, produto que abunda naquela regiao e cuja extracao e um ator determinante na economia local.

Fazendo a ja típica breve descricao geográfica do local, SC esta situada num vale completamente rodeado de montanhas e vulcoes, cujas encostas sao ocupadas por pequenos povos indígenas. Nas mesmas, encontram-se as igrejas de Guadalupe, cuja longa escadaria de acesso e precisamente onde a central rua de Guadalupe comeca, e do Cerro, localizada na montanha do lado oposto como se se duas claques rivais se tratasse. A paisagem que se pode vislumbrar de ambas e fantástica, fazendo lembrar uma Cidade do Mexico em miniatura, devido a toda a sua perferia montanhosa, na qual a arquitetura castanha e verde de Deus ainda e o traco que prevalece.

Regressando ao prmeiro dia, algo de muito relevante aconteceu e que acabaria por marcar a nossa estadia em SC. Com os banhos tomados e com as mochilas ja meio vazias ao fundo das nossas camas, saimos para jantar e beber um par de gasosas. Quando ja nos encontravamos a fazer o caminho de regresso, eu parei subitamente ao identificar uma musica de Violent Femmes (banda americana) que se escapava pelas entreabertas portas de um bar que parecia estar a fechar. A medo, dado o avancar da hora e o aspeto de pre-clausura, entrei no ‘La Sandunga’ e perguntei se ainda serviam. Uma senhora alta, speedada e de rastas ate ao rabo respondeu que sim e fez o favor de nos servir. Sentados ao balcao, eu cantarolava as cancoes de Violent Femmes enquanto a senhora, que entretanto nos revelou ser originaria da regiao Italiana de Liguria (tal como o simpatico Matias de Puerto Escondido), nos interpelava constantemente com questoes e curiosidades. Com o decorrer da noite, o gelo foi derretendo e ao toque de uma cerveja oferecida, mostrou-nos as cancoes da banda da qual e manager e que se encontrava, naquele momento, no Corona Music Fest em Guadalajara. Acabamos essa noite na boite ‘Madre Tierra’ a testemunhar o quao mal, eu e o Formiga, dancamos salsa.

Ja parcialmente descrita, esta Italiana que se apaixonou por San Cristobal enquato viajava e que decidiu la voltar para viver o resto dos seus dias, chama-se Marirosa e assumiu o papel de nossa matriarca, apresentando-nos a imensa gente e proporcionando-nos uma ampla variedade de experiencias que de outra forma teriam sido impensaveis.

No segundo dia, voltamos a passear pela surpreendentemente grande cidade de SC, tendo descontraido os cansados corpos num comedor de rua com uns deliciosos tacos. A primeira cerveja da noite foi no elegante bar ‘Entropia’. A simpatica proprietaria Meixueira, de descendencia galega, tambem foi lesta no que toca a nos integrar na tao simpatica clientela do seu bar. Ao som de Chico Cesar, despedimo-nos e seguimos para o ‘La Sandunga’, onde fomos, novamente, muito bem recebidos pela Marirosa e a sua seria, mas extremamente competente empregada Gina. Decidi entao, apos conferenciar com o diabo em cima do ombro esquerdo, assumir o controlo da playlist do bar, papel esse que correu de tal forma que fiquei retido o resto da noite junto ao PC, sendo apenas interrompido para dar abracos ou apertos de mao pela escolha das musicas. Essa noite prosseguiu sob um clima de reencontro de amigos de escola que nao se veem ha dez anos e acabou ja o sol anunciava que chegavamos a meio do dia.

Depois de um domingo de vista embaciada e de pernas latejantes, a segunda-feira deu o pontape de saida para a semana mais emotiva da viagem ate entao. Sem qualquer ordem cronologica ou de preferencia, nesta semana fomos as montanhas atuar para meninos indigenas que nunca tinham visto uma marioneta, atuamos uma noite inteira no ‘La Sandunga’, passamos um dia na casa que Marirosa possui nas montanhas e visitamos o pequeno mas util museu da cidade de SC. Nele percebemos, nao apenas as dificuldades de escoamento de agua na epoca das chuvas, devido as suas condicoes geograficas desvantajosas, mas tambem curiosidades culturais como o facto desta cidade ter nove santos padroeiros ou de ter sido o palco da primeira fotografia da historia, na altura impressa num papel vegetal que teve a duracao de 15 dias.
Nesta semana fomos tambem ao Canon del Sumidero, rio cujas margens sao compostas por escarpas, assemelhando-se vagamente ao Grand Canyon de Arizona. Este sitio e um dos locais mais importantes da historia de Chiapas, simbolizando a resistencia dos indios aos invasores Espanhois que os tentavam conquistar. Segundo reza a lenda, na escarpa mais alta deste canhao, os indios das montanhas de Chiapas, realizaram um suicidio coletivo ao atirarem-se todos ao mesmo tempo, revoltados por estarem a ser forcados a abdicar dos seus principios e costumes. Ainda hoje, a bandeira de Chiapas tem, como imagem de fundo, o Canon del  Sumidero.

Por entre os dias preenchidos desta semana, visitamos tambem dois povos indigenas, San Juan Chamula e Zinacantan, tendo sido possivel assistir a fabricacao manual de artesanato local, a tecelagem de lindissimos trajes e aos seus costumes religiosos que persistentemente mantiveram ao longo de varios seculos. Sublinhe-se que a igreja de San Juan Chamula e local de pratica de duas religioes diferentes no mesmo espaco. Coisa pouco comum neste mundo!

No ultimo fim de semana em SC, fomos a uma cantina local onde almocamos junto de taxistas, sapateiros, artesaos, carteiros e todos os casticos de SC, embalados por musica rancheira, cerveja barata e comida (mais ou menos) boa, barata e bela. O nosso tour noturno voltou a ter uma incursao pelo ja habitual ‘La Sandunga’ para a ver a banda gerida por Marirosa atuar. Apos o seu concerto ainda toquei tres ou quatro musicas a pedido de Mari para dar um gostinho de Bossanova aos presentes. O resto dessa noite voltou a ser de gaudio e a terminar ja depois da hora de almoco.

Tentamos abandonar San Cristobal de las Casas na segunda-feira seguinte, mas San Cristobal de las Casas nao nos queria abandonar! Os nove santos devem ter abencoado a manifestacao de professores que se realizou, pois a adesao foi tal que bloquearam as saidas dos autocarros da estacao. Em boa hora o fizeram, uma vez que apos um dia bem relaxado em SC, tivemos um jantar maravilhoso no restaurante do Ale, um dos muitos conhecimentos que fizemos no ‘La Sandunga’.
Para alem de Marirosa, pessoas como a acessivel Gina (que com o tempo baixou a guarda e se revelou uma simpatia), a sempre disponivel Mercedes, a desvairada Meixueira, o sobrio pinguim (alcunha, como e obvio), o sorridente e generoso Ale e o acessivel Carlos, farao sempre parte do nosso conto de fadas mexicano!

Pela primeira vez, em toda a viagem, senti-me em casa. Admito que tal sentimento possa ser falacioso, mas confesso que ser cumprimentado a toda a hora na rua, nos faz sentir integrados e que aquele legado tambem pode ser nosso a troco de muito pouco.

Nunca, mas nunca esqueceremos estes dias em San Cristobal de las Casas!

Curiosidades (vale a pena ler J)
1 – San Cristobal de las Casas esta sentada em cima de uma bacia de uranio a 2200 metros de altitude. Como o uranio evapora-se atraves da terra, a populacao inala um composto quimico andando, permanentemente, ‘pedrada’. Esta e a razao cientifica, muito curiosa, que ajuda a explicar a tao grande simpatia e generosidade dos seus traseuntes.

2 – E nas montanhas de Chiapas que ainda permanecem os Zapatistas, exercito de guerrilha que organizaram a revolucao de 1994, com a invasao a San Cristobal de las Casas. Zelando pelos Direitos dos indigenas e incrivelmente eloquentes, o EZLN (Ejército Zapatista de Liberación Nacional) ainda se mantem ativos e bem organizados.
O documentario ‘a place called Chiapas’ e uma otima fonte de informacao sobre este movimento.

3 – Em SC tentamos o busking por duas vezes! Na primeira vez fomos interrompidos ao fim de quatro musicas, quando tinhamos uma plateia de 30 a 40 pessoas, devido ao facto de nao sermos possuidores da licenca necessaria. Plenamente conformados com esta situacao, fomos no dia seguinte submeter-nos a todos os processos burocraticos para a obtencao da mesma. Enquanto esperavamos pela a assinatura da Diretora da Casa da Cultura de San Cristobal, fomos ensaiar relaxadamente para o jardim em frente. Neste ensaio de apenas duas musicas, captamos a atencao de uma familia de Guadalajara que depositou na mala da guitarra, dinheiro suficiente para todas as refeicoes de ambos naquele dia.

No dia seguinte, ja na posse da licenca, fomos abordados pelo mesmo guarda que defendeu que necessitavamos de mais uma copia da licenca. Claramente a procura de extorquir dinheiro, gritei-lhe ‘NAO!’ junto ao seu nariz, coloquei, violentamente, a guitarra na mala e virei-lhe costas...va enganar os seus...

Monday, August 5, 2013

Cidade do Mexico a Cores e a Preto e Branco!

Cidade do Mexico!

Local de profetas, de ruas entretidas, de conspiracoes... mas tambem de boas ideias, boas acessibilidades, boa luz, (mais ou menos) boa musica, trafego incrivelmente incrivel e de obsessoes!
Se tivesse que enumerar uma caracteristica, seria os murais que a salpicam e as constantes descobertas arqueologicas dentro da Cidade.
Fascinante!

                                (como se os corpos das Mexicanas fossem assim)











                         (melhor momento do dia: quando as caixas de musica se calavam)




Retorno do quase retornado!

Amigos,
Agora que ja me encontro na Argentina e com a minha situacao regularizada, irei compensar o meu afastamento do blog esta semana! Todos os dias postarei algo.
Alternando entre fotos e textos, espero nos proximos dias regulariza-lo.

De momento, nao me encontro com o fiel companheiro Formiga, que se encontra (penso eu) na Costa Rica. Eu tive de voar direto para Buenos Aires, enquanto o Formiga seguiu o seu percurso normal, passando entretanto pela Nicaragua.

Um pedido de perdao pela paragem a que o submeti e um desejo de boas ferias para a grande quantidade de seguidores que se encontram neste modo!

Hasta la vista babies!
JP

Wednesday, July 24, 2013

Nota - retido na Guatemala!

Amigos,

Encontro-me retido na Guatemala! O Formiga seguiu viagem ha dois dias e eu ficarei por aqui ate...ate conseguir sair, o que eu espero que seja dia 1 de agosto. Estou retido porque tenho apenas 5 meses de validade no passaporte e o minimo para se viajar na America Central e 6 meses! Agora nem saio daqui, nem entro noutro pais sem um apoio diplomatico que, adivinhem la, nao existe na Guatemala!!! Nao ha Embaixada, nem Consulado Oficial. Existe contudo um Consulado Honorario com 13 dias de funcionamento que nao tem poder nenhum, por ser apenas honorario...

Viva a Guatemala que gosta tanto do meu look que nao me quer deixar sair!!!

O blog esta em standby! tenho passado todas as horas que posso em frente ao pc, mas a enviar mails para tratar da minha situacao. Ate breve (espero!)
JP