Wednesday, June 5, 2013

Buskin' in New Orleans


Contado ninguem acredita!
No primeiro dia de Busking no French Quarter, as portas da Jackson Square, tocamos durante uma hora. Iniciando o numero depois das 18h, para nao termos de pagar licenca, vimos passar por nos todo o tipo de pessoas. Desde senhores com uma barba incrivelmente penteada ate ao umbigo, a diversos punks, travestis, executivos, desportistas, judeus ortodoxos, freaks, cartomantes e por ai fora... Ate aqui tudo normal, tendo em conta o quotidiano de New Orleans. Contudo, a meio do nosso numero, vimos um bicho que se assemelhava a um gafanhoto com cerca de três metros e meio de altura. Sim! Eu diria uns tres metros e meio de altura! Quando o vi cruzar a esquina, parei de cantar mas continuei a tocar, pelo que o Robert Johnson continuou a sua atuacao, concentrando toda a atencao do seu maestro. Mas como tal avistamento tinha de ser partilhado, chamei o Formiga que ficou petrificado a olhar para aquilo. Calculamos que fosse uma mascara de gafanhoto com um homem la dentro, mas pela sua agilidade, posso garantir que nao usava andas. Tambem nao observamos qualquer costura no fato, mas o mesmo passou num passo apressado, dificultando qualquer analise mais detalhada.

Semanas depois cruzamo-nos com um rapaz que tinha estado na mesma altura em NO que nos. Ao perguntar-mos se ele tinha visto o bicho ele respondeu de olhos arregalados e com um salto como se a cadeira lhe tivesse, momentaneamente, queimado o rabo: ‘YEAHHH! WHAT WAS THAT???’

Love her so! HER SO!
Ainda no primeiro dia de busking em NO, reparei numa senhora que parecia que tinha acabado de vir de uma tribo africana naquele preciso momento. O enorme lenco de cor salmao que ostentava na cabeca, enrolado em forma de turbante, jogava na perfeicao com o seu vestido de linho da mesma cor. Descalca, aproxima-se de nos com um ar intrigado e com um sotaque peculiar pergunta-me: 'hallelujah I just love her what?', 'what did you sing in there?'.

Eu respondi 'love her so', entoando de imediato a cappela o refrao da musica de Ray Charles 'Hallelujah I love her so'. Ora, apesar da sua figura tao peculiar e excentrica, nao foi isto que nos espantou. O que nos espantou foi o facto de nao tocarmos essa musica ha mais de meia hora e eu juro que tal pessoa nao tinha passado a nossa frente ate aquele momento. Onde estaria ela???
Garantidamente, uma das personagens mais inospitas que alguma vez me abordou....

Sem estoria para contar aos amigos...mas de boa saude.
Algures a meio do nosso numero notamos que um freak quarentao estava vidrado no Robert Johnson. Deste estado, ele evoluiu para o de dancarino empolgado para depois desaparecer por uns breves minutos. Apos um curto hiato, ele reaparece acompanhado de uma senhora de terceira idade, também com um look freak. Apos dancarem por breves momentos enquanto casal e colocarem duas notas de 1 dolar, ela perguntou-me:
‘do you wanna come with me to x#$#$?’
Sem perceber para onde ela me tinha convidado, retorqui: ‘sorry! To where?’
‘to x#$#$’
Voltei a nao perceber o que ela disse, mas a sua postura deixou-me meio assustado, pelo que disse que não podia. Esteve toda a canção seguinte a olhar-me nos olhos, sem os desviar por um momento e no final pediu-me o contacto. Disse que não tinha e ela la foi embora...
Nah! Sou novo para acordar em banheiras com cicatrizes na barriga.
Licao para quem se acha 'o campeao das duzias'
Estavamos a fazer uma horinha de busking na noite me que saímos de NO (o nosso bus era a meia noite) quando vejo uma bonita rapariga a entrar na rua de bicicleta. Enquanto acabavamos uma musica e eu me esforcava para atingir uns tons mais altos, estabeleci contacto visual com ela e fiz-lhe uma careta. Ela, lentamente, desvia-se da sua rota e dirige-se na nossa direcao. Ao chegar a cerca de meio metro da mala da guitarra (que se encontra sempre aberta quando tocamos, para que o publico possa la colocar a sua contribuicao), tira da sua carteira duas notas de 1 dolar. Perante tal oferta, perguntei ca do alto do meu ego: ‘hey, do you wanna hear a song?’ e obtive a seguinte resposta, proferida num tom enojado e acompanhada de uma nao muito simpatica expressao facial: ‘NOOOO!’
Ela pegou na bicicleta e foi-se embora. Após uma pausa provocada pela surpresa deste momento, rimo-nos por largos minutos.
Tomaaaa...


O kid impostor
Em NO tivemos tambem o nosso maior doador. De aspecto franzino e claramente a atravessar os seus anos de inocencia, um rapaz aproxima-se de mim e coloca uma nota de 20 dolares no meu bolso. Elogiou o nosso carisma e apresentou-se como sendo uma das next big thing do rap americano. Acrescentou ainda que estava em NO num hotel pago pela editora com quem ele tinha recentemente assinado um contrato discografico...
Sim sim!
Dandy Don
Estavamos nos na ponta final do ultimo busking em NO, quando nos aparece a frente uma senhora de cabelo comprido branco, olhos azuis claros de corte rasgado, de roupas largas que lhe disfarcavam a elegante silhueta e sem qualquer calcado. Com uma boa disposicao contagiante e de gargalhada ponte e mola, esta senhora parecia uma adolescente apaixonada pelo nosso Robert Johnson. Entre dancas e muitos sorrisos, esta misteriosa mulher emanava felicidade. Decidimos, entre olhares cumplices, prolongar o nosso numero enquanto ela dancava e vagueava rua acima e rua abaixo. No final do nosso numero, ela apresentou-se e sentamo-nos os tres a falar. De seu nome ‘Don’, esta descendente de indios e patrimonio das ruas de NO. A sua missao e conferir as suas ruas, a alegria e a inspiracao que nos testemunhamos. Com um nivel intelectual que nos impressionou, Don lastimava-se por nunca ter ido a Paris e confessava saudades do filho que se mudou para Memphis. A expressao ‘Caos Controlado’ e dela! Eu apenas a roubei para o ultimo post.
Um abraço, um beijinho e um desejo de boa sorte foram as ultimas coisas que partilhamos com ela. Pegamos na trouxa e seguimos para o Texas...


No comments:

Post a Comment