‘there is a
brewery right next to this corner that sell cheap beer and is running out of
business in two weeks’
‘what?’
‘yeah!
Something must be very wrong to run out of business in New Orleans, when you
sell beer’
Depois do peso emocional que a Highway 61 teve em nos e da
solidao que se sente quando se passa uma tarde em algunas daquelas vilas, New
Orleans e o local ideal para exorcizar as magoas alheias que se penduram em nos
como dentes de leao.
Chegamos numa quinta-feira ao inicio da tarde e fomos recebidos
por uma chuva intensa e ruidosa, embora mais intermitente do que propriamente
persistente. Apos termos entregue o carro que tinhamos alugado para descer a
H61, instalamo-nos no hostel mais barato e rumamos ao French Quarter, na zona downtown da cidade. A soberba luz de
final de tarde, conjugada com uma amena temperatura tornaram um simples passeio
a pe em mais um momento a recordar, apenas e so pela cor que o ceu, as casas e
ate o asfalto tinham naquele momento. Com uma arquitetura Espanhola, apesar de
se designar French Quarter, a zona ribeirinha de NO assemelha-se imenso a uma
realidade mais sul americana, como por exemplo, Buenos Aires. O facto de o
Louisiana ter pertencido aos Estados Unidos Mexicanos (o ainda nome oficial do
país que conhecemos como Mexico) e tambem a sua proximidade com o Oceano
Atlantico que a tornou num importante porto para o mercado dos escravos, tiveram
como consequencia uma multiplicidade de influencias tal que a torna distinta de
todas as outras grandes cidades americanas que visitamos. Seria injusto colocar
todas as metropoles no mesmo saco, mas em todas existem alguns tracos comuns.
No caso de New Orleans, esses tracos esbatem-se ao ponto de que, se se falasse
outra lingua nesta cidade, seria algo que ate fazia sentido.
Carregando o legado de ter sido a culpada pelo nascimento do
jazz, as suas ruas sao compostas por todo o tipo de pessoas que vai desde o
entertainer na esquina (como nos), ao comerciante ambulante, passando por personagens
que parecem fazer de dandy o seu oficio. Tiramos dois días para passear pelas
principais ruas e zonas de NO, como o French Quarter, a Magazine Street, a
Frenchman Street, Canal Street, Loyola Ave., Jackson Sq. e Lafayette Sq.,
aproveitando sempre para ir entrando em lojas e livrarias que nos iam parecendo
interessantes, assim como, entrando em alguns locais para asistir a alguns
concertos que comecavam ainda a tarde era uma crianca.
No sabado, passamos toda a tarde no Jazz Fest. Apesar de um
titulo catalogado com um estilo de música, este festival continha uma dezena de
palcos e artistas para todos os gostos. Se num palco estava a atuar a banda de
rock Fleetwood Mac, apenas a algunas centenas de metros para a esquerda era
possivel assistir-se a um concerto de cantos indígenas. Neste festival, que tem
a característica interesante de comecar as 10h da manha e acabar as 9h da
noite, vimos varias bandas, entre elas os ditos Fleetwood Mac. Tentando perfurar a
maior multidao que alguma vez vi, perdi o Formiga algures na confusao. Como
mocos precautos que somos (e conhecedores das nossas características pessoais)
reencontramo-nos no final do festival, num local que tinhamos previamente
definido, caso nos perdessemos. Enquanto o Formiga preferiu ver Stanley Clarke
e Frank Ocean, eu permaneci sempre no fraco e pouco convincente concerto de
Fleetwood Mac.
Com um amargo de boca e uma dor nas costas de carregar uma
mochila algo pesada (ha coisas que uma pessoa nunca aprende!) saimos do
festival em direcao a Frenchman Street para irmos assistir a boa música ao vivo.
E impressionante como saimos de locais como Memphis, Nashville, Clarksdale ou
Vicksburg e vamos a um festival mundialmente conhecido, para testemunhar
concertos em que a qualidade técnica e o nivel de entrega dos músicos e,
significativamente, mais baixo.
Iamos no segundo ou terceiro concerto dessa noite na
Frenchman Street quando vejo o Formiga a dar um abraco a uma rapariga. Nos
tinhamos estado tres ou quatro noites com tres estrangeiros em Memphis (uma Alema,
uma Australiana e um Ingles) e a Karol (Alema) tinha-nos reencontrado por obra
do acaso. Rapidamente, ela levou-nos ate a Felicity (Australiana) que esperava o
Pete (Ingles) num bar. E comum os viajantes solitarios irem fazendo trechos da
sua rota com pessoas que vao encontrando nos hostels e que tem o mesmo estado
de espirito. Estes tres partiram sozinhos, conheceram-se em Nashville e estiveram
tres semanas a viajar juntos.
Ao chegarmos a porta do bar, realizamos que teriamos de
pagar entrada, algo que nos desmotivou, em conjunto com os ‘abrir de boca’ atraves
dos quais dialogavamos com Joao Pestana. Com pouca vontade e com a cabeca no
busking que ja tinhamos combinado para a manha do dia seguinte, lancamos uma
moeda ao ar para decidir se iamos entrar ou nao. A moeda deu uma
resposta negativa a continuacao da noite (e positiva a nossa vontade inicial),
mas no segundo seguinte iniciamos um dialogo, no qual os dois defendiam que estavamos
em New Orleans, era sábado a noite e iamos para a caminha! ‘F*ck it! We go
with you Karol’. Ja la dentro e apos duas cervejas, percebemos que o Bourbon
custava 4 US$, enquanto a cerveja custava 3 US$. O que se seguiu foi um
festival de Bourbons, ao som de uma banda extensa, com muitos elementos de
sopro e com uma vocalista sexy, de voz rouca a incendiar a imaginacao dos
varios homens presentes. Nao tenho tantas memorias dessa noite quanto gostaria,
mas foi-me contado que, quando o taxista parou em frente ao nosso hostel e ao
deparar-se com o cenario de ver o Formiga ja fora do carro a caminhar em
direcao a casa, lhe perguntou: ‘Hey, won’t you gonna take the guy on the
backseat?’, ao que o Formiga responde apos gritar uma onomatopeia daquelas que
ele utiliza quando se esquece de algo e que aperfeicoou ao longo de tantos anos
‘Sorry man! I forgot him’. Obrigado hein Formiga! Valeu!
Nos tres días seguintes fizemos busking no French Quarter e
colecionamos estorias caricatas que contarei num próximo post. New Orleans foi,
sem duvida, a cidade com o melhor vibe
para se fazer busking desta viagem. Por
outro lado, foi tambem o local com mais competicao. Todos os días, o French
Quarter e invadido por centenas de buskers que elevam esta cidade ao
estatuto de capital mundial do busking, designacao que divide com Paris. Entre magicos,
dancarinos, músicos e oficios que nao sei bem como descrever, as ruas de New
Orleans foram ja alvo de varios documentarios e livros. Alguns destes buskers
sao mundialmente conhecidos, como o grupo de ginastas ‘Blue Man’, o invisual que toca harmonica no
classico ‘Stand by me’ da inciativa Playing For Change e o percurssionista incrivelmente
rapido que toca na Bourbon Street, num balde virado ao contrario. Este ultimo
foi a estrela de um video que se tornou viral na era pre-youtube.
Mas New
Orleans e muito mais!
New Orleans tem cores, humidade e uma selva a desabrochar em
cada canteiro. Antes de ser a cidade de NO, aquele espaco era mais um pedaco da
densa selva do sul do Louisiana, com os seus pantanos e respetivos crocodilos.
New Orleans e tambem o expoente do Vudu nos EUA e uma terra de bruxas (havendo
varios itinerarios noturnos a cobrirem os locais onde ocorreram as estorias
mais macabras e onde foram assassinadas as bruxas que governavam NO no plano
das energías). New Orleans e tambem a terra dos furacoes. O furacao Katrina
ainda esta bem vivo na mente dos locais e os seus estragos ainda sao visiveis
em varias zonas. New Orleans e tambem o paraíso dos weirdos, onde o conceito de pessoas esquisita ou ‘fora’ nao existe…
Mas New Orleans e tambem o local com os piores transportes
em que tive em toda a minha vida. Ver o eletrico passar, constantemente, cinco
vezes na direcao contraria, antes de vir o nosso, chega a parecer uma partida
de TV.
Concluia, entao, dizendo que New Orleans e a terra das
contas por inteiro! Nao ha meias medidas e uma deducao lógica de algo banal
revela-se, a toda a hora, um erro. Pergunto-me o que pensara do mundo um
velhote que tenha passado toda a sua vida em New Orleans.
A base para este mood
e a razao para que esta cidade contenha elementos tao unicos so pode estar
associada a sua arquitetura que se reparte entre influencias Francesas,
Espanholas e Americanas.
Um dia, em conversa com um arquiteto ja reformado, ele
referiu-me que o enorme numero de gente deprimida deve-se ao facto de toda a
gente viver em predios que sao todos iguais uns aos outros, cada um com 20
apartamentos todos iguais, que contem decoracoes IKEA todas iguais umas as
outras. Chegar a casa, apos um dia duro e sentir que nao se esta num sitio único,
que foi construido a nossa imagem e, emocionalmente, desgastante. Ele sustentou
o seu discurso com varios exemplos, entre os quais o da Grecia Antiga, cujos
lideres sempre tiveram muito cuidado com as decoracoes e ornamentacoes dos
edificos publicos porque, segundo eles, se os nossos olhos virem coisas
bonitas, as nossas emocoes tambem vao ser mais ‘bonitas’.
Obviamente que nao nos sentimos em casa, embora nao tenhamos
qualquer duvida sobre a unicidade de New Orleans. E unica, mas nao e para nos!
E para os locals que alimentam este caos controlado. As suas emocoes so podem ser bonitas, porque se ha cidade que e inigualavel e irrepetivel no mundo, provavelmente, ela será New Orleans.
No comments:
Post a Comment