Saturday, July 13, 2013

Sul do Mexico (parte 1) - Cidade de Oaxaca e Puerto Escondido

Bem dispostos e desejosos de conhecer o tao bem falado sul do Mexico, chegamos a Oaxaca com um enorme sorriso nos labios. Esta expressao era sustentada, nao somente pelos preenchidos dias de DF, como tambem pelas dicas que traziamos no bolso e que sublinhavam o quao bem se esta nesta provincia. Desde a ‘provincia mais barata’, a ‘zona mais heterogenea’, ate ao ambicioso titulo ‘a provincia mais cool do Mexico’, as recomendacoes foram-nos chegando de todas as partes e em doses nao regradas.

A chegada a primeira paragem desta provincia deu-se, a semelhanca de DF, de madrugada. Estavamos entao na ‘Cidade de Oaxaca’ (Como ja puderam perceber, no Mexico nao se arrisca muito na altura de se escolher o nome para as cidades. O mesmo acontece com o nome das pracas e das ruas. Em todas as cidades que passamos, havia sempre uma praca Zocalo, uma Rua de Guadalupe, etc). De ruas estreitas, embora longas, esta cidade e algo fustigado pelo transito intenso em algunas zonas. Ainda que nao seja perigoso, nem tao pouco confuso uma vez que todas as ruas tinham apenas um sentido, as longas filas de carochas retiravam um pouco do encanto relaxado da Cidade de Oaxaca, ainda que lhe conferissem um toque algo cinematográfico. De arquitetura colonial e clima agradavel, os dias foram, tal como as noites, passados a vaguear e a entrar aleatoriamente nos muitos mercados e lojas locais de artesanato, livros e artigos em segunda mao. O facto de viajarmos de mochila as costas, ja nos provocou leves e instantaneas depressoes tendo em conta as maravilhosas pecas que temos visto. Quem tem dinheiro para decorar a sua casa, que ignore as caras lojas de centro comercial e apanhe o proximo voo para o sul do Mexico! E de fazer cair o queixo…

Um pormenor curioso da Cidade de Oaxaca (CO) sao as mutacoes que os bonitos jardins interiores das referidas lojas sofriam a noite, dando lugar a bares elegantemente decorados. A Catedral de Santo Domingo e, na nossa opiniao, o que de mais assinalavel CO tem. Visitada pelo Papa Joao Paulo II em 1979, esta Catedral apresenta pormenores arquitetonicos impressionantes, do exterior ao teto, passando pelos varios pequenos altares. Voltamos duas vezes no mesmo dia e admito, sem grande margem para duvidas, que foi a Catedral mais bonita onde alguma vez entrei. Na CO chove, nesta altura, intensamente entre as 17h e as 19h todos os dias, embora no restante tempo o sol brilhe agradavelmente para todos os traseuntes que calma e alegremente polvilham as ruas.

A CO conta tambem com um fenomeno extremamente peculiar. Apos o cessar das torrenciais chuvas e ja de sol posto, milhares de escaravelhos invadem as ruas. A grande maioria encontra-se de carapaca para baixo e de patas para cima e a sua quantidade e tal que e necessario olhar-se para o chao enquanto se caminha para nao se pisar nenhuma. Em conversa com um mexicano, dias depois em Puerto Escondido, foi-me contado que ha 12 anos atras, a quantidade de escaravelhos era tal que tornava impossival a travessia pedonal de qualquer rua.

Com a pequena Cidade de Oaxaca considerada vista, rumamos a Puerto Escondido. Chegamos zonzos a esta Praia do pacifico debvdo a uma das mais massacrantes viagens de van das nossas vidas. Foi numa sexta-feira que fizemos este perigoso trajeto, num pequeno veiculo lotado. Numa estrada de constante curva contra curva a ladear umas ingremes escarpas, o desafio de chegar a Puerto Escondido sao e salvo ia aumentando a medida que nos comecavamos a deparar com varias pedras no caminho, fruto de recentes derrocadas. Para acentuar o grau de dificuldade, a chuva comecou a cair intensamente apos um hora e o nevoeiro aumentou ate chegar a cateoria de visibilidade quase nula. A alta velocidade a que o condutor insistia em fazer o percurso, tambem nao contribuiu para nos acalmar, assim como a alegre conversa que mantinha com o colega do lado e que o convidava a tirar, constantemente, os olhos da estrada. Enquanto todas estas condicoes nos faziam temer pela nossa seguranca, as musicas rancheiras que o autoradio berrava ameacavam afetar, permanentemente, a nossa sanidade. Apos sete horas e uns pozinhos, la chegamos ao destino, combalidos como se tivessemos desafiado uns segurancas de uma qualquer discoteca de Santos e as coisas tivessem corrido mal para o nosso lado.

Puerto Escondido! Que bela localidade para se recuperar das dores das costas que se vao intensificando a medida que as malas vao ficando cheias de livros e alguns souvenirs (no meu caso nao e bem assim, porque ja perdi 4 pecas de roupa…o que torna a minha bagagem mais leve do que no inicio…).

Instalados a 100 pesos (cerca de 6 euros) por noite, num hotel cujo anfitriao foi sempre de uma extrema simpatia e disponibilidade, Puerto Escondido (PE) sera recordado como uma etapa agridoces da nossa viagem. As nossas experiencias variaram entre as muito boas e as mas.

Carregadas de experiencias, as noites de PE foram intensas. To make a long story short, na primeira noite conhecemos um italiano chamado Matias e uma Mexicana, cujo nome teremos que aceitar que se escapuliu para sempre dos nossos cereberos, que nos guiaram pelo centro da verdadeira experiencia Oaxaqueña. Perante estes gentis anfitrioes, ficamos em divida para sempre. Destas tres noites destaco um comico episodio, que passarei a descrever de seguida:
Na terceira noite em PE, tinha acabado de ser abordado, pela segunda vez, por um gigante Australiano e tivemos um pequeno inicio de arrufo nas casas de banho. Quando sai, dirigi-me para o centro da pista, onde se encontrava o Formiga e um casal que entretanto tinhamos conhecido. Esta era a ultima noite de um mediatico bar de Praia em PE, cuja localizacao era em cima de umas rochas, encontrando-se muito bem frequentado. Passei pelo bar para buscar mais uma bebida quando avisto o tal Australiano a incomodar persistentemente uma rapariga que se encontrava junto a um dos muros de madeira que delimitavam o bar (e o separava dos rochedos que o sustentavam). Perdido ha segundos nos meus pensamentos sobre o quao desagradavel este individuo estava a ser, observei-o, estupefacto, a tropecar, rolar sobre a rapariga com quem falava e a desaparecer do meu horizonte em direcao ao abismo que, apesar de nao ser extremamente fundo, era impiedoso a julgar pelas escoriacoes nos bracos, maos e face que restaram no corpo deste pobre bebado. Corri para o muro e fui o primeiro a observar que ele ainda se encontrava consciente. Rapidamente foi circundado de pessoas e retirado dali. Como ‘ao menino e ao borracho, poe Deus a mao por baixo’, foi com algum espanto que passado 15 minutos volto a ve-lo dentro do bar, de bebida na mao e de sangue a jorrar pelas suas recentes e inumeras feridas…

Temendo dar uma ideia enviesada da realidade, PE nao teve so episodios noturnos desprovidos de qualquer caracter cultural. Alugures nas noites quentes desta Praia, toquei todo o meu repertorio de bossanova num restaurante muito tipico de paredes verdes fluorescentes, cujo propietario era um carismatico poeta, ex-recluso, que estudava com afinco os meandros da biologia, uma vez que toda a sua obra se baseava na comparacao do comportamento do Homem com o dos restantes elementos da natureza. A ele voltamos mais tres vezes e conversamos largas horas em diferentes dias.

Nos ultimos dias em PE, conhecemos um senhor chamado Antonio que nos levou Pacifico adentro para pescarmos atum. Saindo pelas 7h da manha, Antonio levou-nos uma especialidade sua para provarmos, caindo-nos como algo indigesto naquele horario. Voltamos pouco antes do almoco para nos refastelarmos com uma grandiosa patuscada de peixe, por nos pescado. Com uma insistencia invulgar, Antonio seguiu-nos o resto do dia (supostamente, o nosso ultimo em PE) para nos vender artesanato, pedido ao qual o Formiga acedeu passado umas horas, penso que mais por cansaco do que propriamente por interesse, dando-lhe o dinheiro para que este patriarca Mexicano fosse buscar o material e o levasse ao nosso hotel. Mas ele nunca apareceu! Adiamos a partida para San Cristobal de las Casas um dia, palmilhamos as ruas de PE e de Zinacatela durante um dia inteiro, mas de Antonio nem sinal…


De clima pesado, jantamos, vimos os Miami Heats vencerem os nossos San Antonio Spurs e arrecadarem o titulo da NBA e la colocamos as nossas pesadas mochilas na bagageira do autocarro. Esperava-nos San Cristobal, cidade precidida por uma reputacao imaculada e que cuja experiencia nos comoveu de tal forma que acabamos por ficar o quadruplo do tempo que tinhamos estimado. O ideal para repor os niveis de felicidade, adrenalina e emocao…

P.S.: dias mais tarde percebemos tambem que o que tinhamos pescado, nao tinha sido 12 atuns, mas sim 12 bonitos...sao da mesma familia, mas com muito menos qualidade...Grande cabrao esse Antonio, hein...

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