Saturday, April 20, 2013

Buskin' in Chicago

Chegados a Chicago fomos apresentar o nosso numero na estacao de metro de Clark/Lake.

Estavamos ha 3 ou 4 dias na Cidade e ja nos sentiamos familiarizados com o seu funcionamento e com o seu mood. Eram 17h15 quando comecamos com a cancao 'Joker' de Steve Miller e foi as 17h16 que fomos interrompidos pela seguranca do metro a pedir que pegassemos nas coisas e que arrumassemos ate serem 18h. A razao apresentada era que durante as duas horas de maior trafego (16h as 18h), era perigoso atuar naquela estacao. Dias mais tarde percebemos que a razao pela qual nao ha buskers (a nao ser os que pagaram a licenca correspondente) ate as 18h, tem a ver com o facto de ser proibido e que so deixam depois das 18h, porque o management do metro sai a essa hora.

La fizemos o nosso numero pelo meio de aplausos, sorrisos e ate coros nao requisitados em algumas cancoes. O resultado foram 71,65 dolares! 71,65 dolares!!
'YEAH!' soltei eu quando acabei de contar o dinheiro ja no nosso quarto. Tinhamos ganho dinheiro suficiente para pagar a estadia e umas refeicoes em apenas duas horas a tocar. Foi perfeito! Senti-me realizado. Por algum motivo, acabamos por ir para a cama cedo e comer uma refeicao bem barata e saudavel. O festejo esbanjador que mereciamos nem sequer foi equacionado :) estavamos mesmo felizes e isso notava-se nos silencios de satisfacao que invadiam aquele quarto e no sorriso que nem eu, nem o Formiga conseguiamos tirar.

No dia seguinte, voltamos ao local do crime para nos depararmos com um saxofonista que com o seu instrumento ligado a um amplificador, impossibilitava a nossa atuacao naquela estacao. Procuramos nas estacoes da mesma linha uma com semelhante potencial, mas nao encontramos. Acabamos por atuar na estacao de Washington durante quase duas horas e conseguimos fazer 21 dolares. Nada mau para uma estacao quase vazia, na maior parte do tempo.

Contudo, o segundo dia de busking em Chicago seria marcado nao pelo dinheiro angariado, mas por duas pessoas muito particulares. Estavamos a meio do nosso numero quando, no final de uma cancao, fui interpelado por uma rapariga de carapuco, na casa dos vinte e com uma camisola suja de molho de tomate da pizza que estava a comer. Com um ar corvado explicou-me que tinha perdido a sua guitarra e que gostaria muito de tocar na minha guitarra, pedido ao qual eu acedi. Quando lhe passava a guitarra, percebi que os seus dedos estavam bastante sujos e que estava a ler 'waiting for godot' de samuel beckett, livro esse que tambem estava sujo de molho de tomate. O que se seguiu foi uma experiencia estranha! A rapariga que, embora tivesse um ar sujo, nao tinha pinta de sem abrigo, comecou a bater nas cordas de uma forma descompassada, sem qualquer nocao de ritmo e tacto, enquanto mexia com os seus dedos no braco da guitarra de uma forma muito invulgar. Com um som alto e horrivel a sair da guitarra ela comecou a olhar para mim com um ar intenso e a dizer que nao sabia o que se estava a passar! Que sabia como tocar, mas que naquele momento nao estava a conseguir. Que tinha aprendido sozinha algumas cancoes mas que nao se estava a lembrar...enquanto ela falava cada vez mais alto e o seu desespero aumentava, a sua mao batia com mais forca na guitarra e o som saia ainda pior. Sem saber como reagir, pois este momento nao estava a ter piada de todo, olhei para o Formiga em busca de alguma dica sobre o que fazer, mas ele olhava para a outra direcao, optando por nao ter que encarar aquele triste espetaculo. Apos uns 4 minutos de barulho intenso (fiquei a conhecer o verdadeiro volume que a minha guitarra atinge. Desculpa mae!), ela devolveu-me a guitarra. Continou a dizer que nao sabia o que tinha acontecido para se esquecer de como tocar, enquanto eu argumentei que, sempre que toco numa nova guitarra, tambem me engano mais do que o normal. Nos prosseguimos o nosso numero, ela deixou passar mais uns 3 ou 4 metros ate que, antes de entrar na sua carruagem, nos gritou: 'it felt great!'. Wow!

Enquanto nos recompunhamos deste episodio, decidimos ir ver se a estacao do dia anterior estava desocupada. No momento em que saiamos da carruagem em Clark/Lake, fomos abordados por um senhor que nos colocou, insistente e desenfreadamente, dezenas de questoes em segundos. 'Vao tocar aqui? o que tocam? onde costumam tocar? tem algum sitio na internet onde vos possa ver? myspace? tavez uma conta de youtube? um link? mas vao tocar aqui? e tu(para o Formiga) o que tocas? e repertorio? que estilo e?' . Ainda atordoados com tantas perguntas, vimos o senhor entrar na carruagem do seu metro que entretanto tinha chegado. Em choque com esta aparicao, ficamos algo desconfortaveis e ansiosos. O clima da estacao ja nao era o mesmo e decidimos esperar pelo proximo metro para ir para o hostel. Ja dentro da carruagem, aguardavamos que as portas da mesma fechassem quando vemos do lado de fora da porta o mesmo senhor a perguntar: 'entao? ja vao embora? nao vao tocar? eu voltei para vos ver? para onde vao tocar? voltam amanha? tem algum sitio na net onde vos possa ver?' bla bla bla...estas questoes vinham uma a seguir a outra! sentimo-nos autenticamente bombardeados por palavras e nem conseguiamos reagir! Enquanto ele continuava com o seu rol de questoes para gaudio das pessoas da nossa carruagem que assistiam a esta histeria descontrolada com enormes gargalhadas, as portas fecharam e ele ficou a falar do lado de fora. Continuou a falar, mas nos ja nao o ouviamos. O metro arrancou.

Olhamo-nos mutuamente e fomos largos minutos a rir...que final de dia!  

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